Em 30, Júlio Prestes e Costa Rego foram exilados para a França. Encontraram-se, numa tarde de neve, à beira do Sena. Costa Rego inconsolável:
-Olhe, Júlio, eu entendo que você esteja aqui. Afinal, foi o candidato à presidência da Republica, a oposição se rebelou e tomou o poder. Eles não iriam querer deixa-lo lá. Mas eu, pobre jornalista e político de Alagoas, não era ameaça nenhuma. Não me conformo.
-Não se conforma, por que? Todos diziam que você ia ser meu ministro da Justiça. É verdade que eu nunca tinha pensado nisso.
-Ora, Júlio, por que você está dizendo isso, nesta tarde tão fria, tão triste? Não custava nada ser amável agora.
E a neve continuou caindo à beira do Sena e dentro dos dois.
MANGABEIRA
Exilado em 30, o ex-ministro do Exterior Octavio Mangabeira estava na Bélgica, e lá encontrou ex-Chanceler da China, também exilado e vivendo como monge em um mosteiro.
Velhos conhecidos de conferencias internacionais, a conversa espichou. Mangabeira não se conformava com o exílio e estava surpreso com a tranquilidade do chinês:
-O que se deve fazer quando a política vira e a gente perde o poder e o direito de viver na própria terra?
-Rezar.
Quinze anos depois, Mangabeira voltava ao poder. O chinês, nunca mais. Continuou rezando.