O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público contra quatro policiais militares suspeitos de participarem de um suposto esquema de extorsão de ambulantes que atuam na região do Brás, famoso ponto de comércio popular no centro da cidade.
A decisão, da última terça-feira (21), foi revelada pelo G1 e confirmada pela reportagem. Assim, tornaram-se réus no processo militar os sargentos Lucia Ferreira de Oliveira, Wellington Stefani e Humberto de Almeida Batista, além do Cabo José Renato Silva de Oliveira. Eles vão responder por crimes como roubo, extorsão e milícia privada. Eles também respondem processo na Justiça comum.
Um quinto PM, que chegou a ficar preso após operação do Gaeco (grupo da Promotoria de combate ao crime organizado) e Corregedoria no final do ano passado, não foi denunciado neste processo no TJM por estar aposentado desde 2017, mas vai responder a processo na Justiça comum, conforme os autos.
A investigação começou após o Gaeco receber da Corregedoria ofício informando que PMs -incluindo cabos, soldados e sargentos- eram suspeitos de exigir e receber pagamentos para permitir a atividade das vítimas na região. A investigação teria comprovado as suspeitas.
”Vários vendedores são imigrantes de países da América do Sul e não possuem acesso a linhas de crédito, se vendo obrigados a procurar agiotas para obter dinheiro e repassar aos criminosos. Esses agiotas usavam dos serviços dos mesmos policiais militares para cobrar, de forma violenta, os inadimplentes”, afirmou a Promotoria no final do ano passado.
Segundo o corregedor, coronel Fabio Sérgio do Amaral, os crimes aconteciam ao menos desde 2023. As áreas de comércio popular eram loteadas e o grupo ”agia como donos das ruas”.
Um cabo atuava de motocicleta no local. Ele percorria as ruas da região fardado, conversava com os comerciantes como uma forma de amedrontá-los e, nos dias em que estava de folga, voltava exigindo o pagamento.
A Corregedoria da PM apurava os valores movimentados pelo grupo com base em planilhas aprendidas na operação. Na casa de um suspeito apontado como agiota da quadrilha, foram encontrados R$ 140 mil escondidos pela casa.
Uma das testemunhas protegidas ouvidas pelo Gaeco relatou que o grupo passou a exigir o pagamento de luvas no valor de R$ 15 mil por ano e mais R$ 300 por semana para autorizar sua permanência na região. “Se a pessoa faltasse um dia, já perdia a barraca”, explica o corregedor. A reportagem tenta contato com as defesas dos PMs.