Opinião: Na Lavagem do Bonfim, eleição da Assembleia protagoniza cena política após Coronel causar rebuliço

A parte política da Lavagem do Bonfim teve como protagonista um tema que até poucos dias atrás ninguém tratava: a eleição da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). O culpado é o senador Angelo Coronel (PSD), que cumpriu o cortejo nos anos em que presidiu a AL-BA e, desde então, participa apenas do cerimonial ecumênico, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Após ele causar rebuliço no PSD e na base aliada do governador Jerônimo Rodrigues, a sucessão de Adolfo Menezes esteve na boca de quase todos os interlocutores, sejam eles aliados ao governo, sejam oposicionistas.

No adro da Conceição da Praia, Coronel posou para fotos com a oposição. Ele e até mesmo os expoentes maiores do grupo, ACM Neto e Bruno Reis, negam que haja conversas ou negociações para que, em 2026, ele tente ser candidato à reeleição pelo lado adversário ao PT. Pode até não haver algo palpável, mas não deixa de criar ciúmes e tensão esse flerte, ainda que Coronel tenha dado inúmeros exemplos de lealdade extrema ao PSD de Otto Alencar.

É claro que, mesmo que tenha havido um princípio de ”namoro”, ninguém vai tratar publicamente do assunto. Afinal, há uma questão de respeito e, felizmente, a cena política baiana mantém certa fidalguia. Então, a Coronel cabe alimentar os rumores que podem beneficiá-lo no futuro. E a proximidade entre ele e a oposição já lhe rendera, em 2017, a presidência da AL-BA e a consequente indicação para compor a chapa do PT como senador no ano seguinte.

Há uma questão central no debate sobre a sucessão de Adolfo: a possibilidade dele se tornar inviável do ponto de vista jurídico para se manter no posto. Por isso o interesse sem tamanho na primeira vice, já que, uma vez sentado na cadeira, dificilmente o dono da caneta conseguiria perder a eleição para si próprio (não duvidemos da capacidade de alguns, mas é improvável). Como o presidente dá reiterados sinais de que não pretende desistir de ser reeleito uma segunda vez, ele poderá ser obrigado a renunciar por fatores externos e alheios à própria vontade.

O senador Otto Alencar demonstrou que, caso haja impedimento de Adolfo, a candidata natural seria Ivana Bastos, que não chegou a retirar o nome da disputa. Mas, para isso, precisaria combinar com os 20 oposicionistas e os 12 da “bancada de Coronel”. Por isso há tanto receio dessa combinação “explosiva”. Diante de um eventual impasse, o azarão Alex da Piatã estaria correndo por fora.

Enquanto isso, o PT demarca espaço apresentando Rosemberg Pinto e o desejo antigo dele em presidir o Legislativo baiano. Acontece que, havendo a conjunção de fatores da remoção de Adolfo eleito do cargo e Rosemberg na interinidade, não há certeza de que ele consegue ”domar” os votos dos parlamentares para permanecer no cargo. É uma aposta que o governo pode tentar, desde que sabendo que Angelo Coronel Filho, correndo por fora, pode chegar à frente mesmo na disputa pela 1ª vice-presidência que, até aqui, só tinha Rosemberg reinando absoluto. E está aí uma derrota que não ficaria tão boa para a história de sucesso do PT baiano.

Não ajudou na fervura a forma como o governador Jerônimo Rodrigues (PT) falou sobre Coronel em 2018. Pareceu fora de tom dizer que ”mandato dele” é ”nosso”. É claro que política se faz em grupo, mas o fator PT não era lá tão favorável naquele ano e Coronel recebeu votos de oposicionistas que desacreditavam em Jutahy Magalhães Jr. (PSDB) e Irmão Lázaro (PSC). Então desmerecê-lo, a essa altura do campeonato, pode jogá-lo no colo dos adversários.

A tal chapa dos sonhos, formada por Jerônimo Rodrigues, candidato à reeleição, e Jaques Wagner e Rui Costa ao Senado, funciona para o petismo e, do ponto de vista eleitoral, é primordialmente difícil de ser batida. Contudo, as conjunturas mudam e concentrar todo o poder com um único partido pode significar a derrocada de outros, especialmente o PSD e o Avante, que se tornaram partes do malfadado tripé que dá sustentação ao governo baiano.

A Lavagem de um ano não eleitoral, que tendia a ser esfriada, foi aquecida por um assunto insólito e um personagem que articula mais do que se mostra aos holofotes. E olha que nem a confusão do PIX conseguiu render tanto. Resta saber qual dos lados o Senhor do Bonfim vai realizar os desejos. Não em 2025, claro. Afinal, os olhos deles estavam todos para o próximo ano.

*Por Fernando Duarte / Bahia Notícias