Adversários do grupo político do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, se regozijaram com a hipótese de que Luís Eduardo Magalhães Filho, mais conhecido como Duquinho, pudesse se lançar à profissão pela qual o pai dele, o ex-deputado federal Luís Eduardo Magalhães, é lembrado como um mestre. A lógica do dividir para conquistar é o que permeia esse sentimento que pareceu irradiar entre opositores ao que, no passado, se convencionou chamar de carlismo e hoje é muito menos do que um movimento como o liderado pelo patriarca da família Magalhães, o ex-senador falecido Antônio Carlos.
Duquinho nunca demonstrou qualquer afeição por seguir os passos eleitorais do pai, morto em 1998 quando era preparado para ser candidato ao governo da Bahia e com potencial para ser alçado futuramente ao Palácio do Planalto. Órfão de pai ainda muito jovem, preferiu ir para o ramo empresarial, onde ”nada de braçadas”, dado a rede de contatos e relacionamentos herdados do sobrenome. Coube ao primo ACM Neto, então, levar à frente o legado político da família – ainda que a contragosto do todo poderoso ACM. Esse foi o arranjo familiar construído ao longo de mais de 20 anos e que, por um espécie de ”despertar” do filho de Luís Eduardo, pode ser colocado à prova a partir de agora.
Caso a mosca azul da política tenha realmente picado Duquinho, o primo pode se tornar o principal calo de ACM Neto. Apesar de pertencerem a mesma ”grife”, o ex-prefeito de Salvador conquistou o posto de herdeiro do legado do carlismo por esforço próprio e sem o aval de muitos que consideravam o tio que presidiu a Câmara dos Deputados o grande perpetuador desse ”movimento”, com um quê de sofisticação que não cabia ao cacique e patriarca da família. Luís Eduardo pai era querido até pela esquerda – vide a próspera amizade com Jaques Wagner -, algo que pouquíssimos representantes da direita baiana conseguiram.
A hipótese foi cogitada e atrasou os próprios arranjos do grupo, especialmente em Salvador, para 2024. Os planos de Bruno Reis de lançar a candidatura à reeleição, que incluía a apresentação de quem será o vice, tiveram uma pausa rápida exatamente para a digestão dessa notícia de que Duquinho poderia entrar para a política. Aliados menos fieis, inclusive, chegaram a manifestar publicamente o convite para que o empresário integrasse os quadros de outros partidos que não o União Brasil, que, em linha do tempo, representa o PFL ao qual Luís Eduardo fora filiado. Ou seja, ganham mais os adversários de ACM Neto do que qualquer outro político em atividade na Bahia – ou em pretensão de atividade, como o próprio Duquinho.
Já depois da morte de ACM, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva projetou que o Democratas (antigo PFL) deveria ser extirpado da política brasileira. O fim chegou estar próximo, mas vitórias como a de ACM Neto em 2012 em Salvador não apenas deram sobrevida como tornaram o partido relativamente competitivo em alguns estados brasileiros – com destaque à Bahia. O ex-prefeito da capital baiana tem dificuldades diversas para se manter como voz ativa no processo político local após perder o governo da Bahia 10 anos depois de dar fôlego ao grupo que passou a liderar. Lidar com um problema familiar com o primo é uma vitória prévia daqueles que desejam vê-lo enterrado, sem sequer aparecer mais nas urnas. Luís Eduardo Filho terá sido encantado por uma sereia ou teria deixado o despertar político adormecido por mais tempo que o comum?
*por Fernando Duarte