Ainda era campanha eleitoral quando elencamos aqui educação e segurança pública como duas prioridades no debate do pleito de 2022 na Bahia. Era natural, frente especialmente às melhorias contínuas na área de saúde, com novos hospitais e o projeto das policlínicas. Se a educação, de onde emergiu o governador Jerônimo Rodrigues, poderia ser um calo, foi a segurança pública que se tornou um joanete difícil de caber no sapato do governo.
Parece uma infeliz coincidência que as três eras petistas na Bahia tenham, cada uma, uma crise para chamar de sua. Jaques Wagner enfrentou uma greve de professores que ultrapassou a marca de 100 dias. Rui Costa teve que lidar com uma pandemia e alguns milhares de mortos pelo Covid-19. Já Jerônimo é obrigado a combater talvez o maior medo da população: a violência. E, até aqui, as batalhas não têm sido favoráveis ao governo estadual.
Os números não são novos e os dados refletem o legado que, se não fosse de um mesmo grupo político, seria tratado como maldito. A Bahia enfrenta ondas crescentes de violência há tempo suficiente para que os gestores saibam que o fundo do poço existe e sempre é possível cavar mais. Temos mais mortos do que guerras ao redor do mundo e lidamos com um índice de letalidade policial muito acima do ideal. Ainda assim, vemos certo nível de bate-cabeças e de instrumentalização política do debate. Até quando vamos fingir que está tudo sob controle e que o dia de amanhã não é um risco para cada um de nós e o nosso entorno.
Apesar dos pesares, é possível reconhecer que o secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, não é um amador qualquer, muito menos uma figura que pode ser transforma em um fantoche pela classe política. Pena que tenha demorado tanto para se admitir que há uma crise sem precedentes e que muito precisa ser feito, ainda mais quando a herança não é das melhores. O problema pode não ser meramente local, como pregam os governistas, mas aqui está muito mais facilmente perceptível. Basta rememorar casos recentes como do garoto Gabriel, de Mãe Bernadete ou do próprio policial federal Lucas Caribé. Todos vítimas de um sistema fragilizado e sem perspectivas positivas num curto espaço de tempo.
Resolver a problemática da segurança pública é o maior desafio do governo Jerônimo. Dar respostas rápidos e efetivas – sem que haja a promoção de mais violência desenfreada – é o que se espera de quem está no poder. Aos adversários e à sociedade cabe a cobrança diária para que aconteça a mobilização necessária para solucionar o problema. E não adianta transferir responsabilidades: trocar apenas o sapato não resolve o incômodo joanete.
*por Fernando Duarte