Durante a sessão ordinária do Senado nesta segunda-feira (19), o senador Marcos do Val (Podemos-ES), voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, afirmando que a operação que a Polícia Federal fez em seu gabinete na última quinta, 15, foi orquestrada e marcada propositalmente para ocorrer no dia de seu aniversário. ”Tem gente falando que Alexandre de Moraes é um serial killer da Constituição”, disse o senador.
A sessão que foi realizada na tarde desta segunda não deliberou sobre projetos e teve apenas pronunciamentos de parlamentares. Do Val leu o que seria uma suposta troca de mensagens entre ele e Moraes, agendando uma conversa. Em fevereiro, o ministro confirmou que o diálogo ocorreu, comparou a trama golpista a uma ”operação tabajara” e disse que o senador não quis formalizar denúncia.
Marcos do Val usava um broche da Swat, polícia especializada dos Estados Unidos da qual alega ter feito parte. No dia da operação, havia nas paredes um desenho do parlamentar usando as vestes da corporação.
O senador reiterou nesta segunda que a operação teria o objetivo de procurar documentos no seu gabinete que comprovariam as alegações de que STF e governo estariam unidos em um ”conluio” para permitir que as manifestações de 8 de janeiro em Brasília acontecessem, para criminalizar radicais bolsonaristas. ”(Os agentes estavam) Tentando procurar o pen drive laranja, a tal bala de prata que eu dizia para todos. Teve até policial que ficou emocionado e chegou a chorar no dia, pedindo desculpas”, disse Do Val.
Nas redes sociais do senador, que foram derrubadas por ordem do STF, havia diversas publicações desse teor, compartilhando imagens de supostos relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que comprovariam ao conluio.
Durante o discurso desta segunda, o senador apelou várias vezes para que seus pares se unissem contra o que entende ser um “precedente perigosíssimo”, dizendo que eles poderiam ser os próximos. Do Val afirmou mais de uma vez que a data foi escolhida de propósito.
”Fontes me passaram que houve uma insistência do ministro Alexandre de Moraes para que fosse no dia 15”, afirmou. A festa de aniversário que estava marcada para o dia 16, em Vitória, foi mantida, com discurso e lançamento de um livro sobre os quatro primeiros anos de mandato do parlamentar.
Na quinta-feira passada, o senador foi alvo de uma operação da PF que vasculhou o seu gabinete em Brasília e mais dois endereços vinculados a seu nome. Ele é investigado pelos crimes de divulgação de segredo, associação criminosa, abolição do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Em fevereiro deste ano, Do Val disse que teria sido aconselhado por Moraes a ir a uma reunião de organização de um golpe de Estado chamada por Jair Bolsonaro e Daniel Silveira, no intuito de coletar informações para o ministro. As declarações lhe renderam uma investigação criminal.
Na primeira entrevista que deu à imprensa depois da operação, na noite da quinta passada, Do Val disse ser vítima de uma tentativa de “intimidação” e afirmou ter mentido para a imprensa sobre a trama golpista. O depoimento que ele deu à PF conteria, segundo a entrevista do senador, ”a versão verdadeira, com detalhes até da roupa que todo mundo estava usando”. “O que foi dito para a imprensa não era nada oficial. Eu usei a estratégia da persuasão”, afirmou. *Estadão