Até as bandeiras que ornam a Assembleia Legislativa da Bahia sabiam que a CPI do MST não seria instalada na Casa. Era uma questão de tempo para que a matéria fosse sepultada e, como envolveu parte da base aliada, foi necessário encontrar uma saída honrosa para a natimorta comissão. Não dava para apostar que um governo recém-iniciado e com uma base expressiva iria permitir o mínimo de instabilidade que uma CPI poderia causar.
Jerônimo Rodrigues e o entorno dele não fizeram qualquer demonstração pública contrária a CPI. No máximo, o líder do governo, Rosemberg Pinto, tentou ludibriar os desavisados com a suposta ausência de fato determinado para a instalação de uma CPI. Fatos sobram, inclusive. Após o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao governo federal, representantes do MST, que estavam represados, foram às fazendas e retomaram a política de ocupações. Era esperado e a oposição percebeu a oportunidade de surfar nessa onda. Pena que era uma marola.
Ao assinar o pedido de CPI, o presidente Adolfo Menezes deu a senha para que houvesse a pressão necessária para discutir o tema. Sob o argumento que é contrário à invasão de propriedade privada que não atende aos requisitos da reforma agrária, Adolfo mandou um recado para que a articulação política do PT tentasse ”frear” o ritmo do MST na Bahia. Houve excessos desse movimento social, base da própria origem do partido, ainda na década de 1980. Recado dado, recado entendido.
O chefe do Legislativo sofreu pressões, inclusive de caciques do próprio PSD, para tentar reverter a possibilidade de instalação da CPI. Na posição dele, qualquer tipo de recuo poderia fragiliza-lo e ao recorrer ao parecer da procuradoria Jurídica da Assembleia, Adolfo não precisou pagar pelo desgaste dele próprio ser responsável por sepultar o colegiado. É inegável que para permanecer por tanto tempo no parlamento é preciso ter o traquejo que ele demonstrou.
Para além da própria estratégia governista, é preciso destacar que dificilmente um deputado estreante, com menos de seis meses de mandato, iria conseguir emplacar um pedido de CPI. É parte do processo de ambientação saber onde colocar os pés e o bolsonarista radical Leandro de Jesus deu passos maiores que o permitido nessa fase. Então, dar visibilidade a uma figura como ele iria sombrear qualquer outro nome da oposição, alguns com mais tempo de casa ou com projeções futuras. Isso explica parte da falta de empenho político e público dos adversários do PT para emplacar a comissão especial.
A CPI do MST na Assembleia não vai acontecer agora – e provavelmente num futuro próximo. Porém os recados ao governo, ao PT e ao MST foram dados. Falta agora acalmar os ânimos com o agronegócio, que incentivou a instalação da CPI. Essa parte, todavia, é mais fácil sem o palco de uma comissão parlamentar de inquérito, que sempre se sabe como começa, mas dificilmente se tem noção de como termina.
*por Fernando Duarte / Bahia Notícias