O presidente Jair Bolsonaro (PL) ligou nesta terça-feira (12) a familiares de Marcelo de Arruda, tesoureiro do PT assassinado em Foz do Iguaçu no sábado (9), e disse que a esquerda tenta ”politizar” a morte do petista para desgastar o governo.
A ligação por vídeo foi feita pelo deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), que esteve na casa de um dos irmãos de Arruda, com o aval de Bolsonaro, para intermediar a conversa.
Otoni disse que Bolsonaro conversou com dois irmãos do petista assassinado: José e Luiz de Arruda. Também aparece na chamada, segundo o deputado, a esposa de um dos irmãos.
O presidente ainda convidou uma parte da família de Marcelo de Arruda, alinhada ao bolsonarismo, para ir a Brasília na próxima quinta-feira (14) para visitar o Palácio do Planalto e fazer uma entrevista coletiva.
”A possível vinda de vocês a Brasília, se concordarem, qual é a ideia? É ter uma coletiva de imprensa para falar o que aconteceu. Até para [evitar] ataques ao seu irmão. Não é a direita, a esquerda. Esse cara [que o assassinou], pelo que tudo leva a crer, é um desequilibrado”, disse Bolsonaro.
”Eu faria isso para vocês terem a imprensa na frente de vocês para mostrar o que aconteceu. Se bem que a imprensa dificilmente vai voltar atrás, porque grande parte da imprensa tem o seu objetivo também, que é desgastar o meu governo”, completou.
Luiz de Arruda criticou o uso político da morte. ”O que não aceitamos é usar o meu irmão como pauta de política. Não aceitamos isso de forma alguma. A Gleisi [Hoffmann, presidente do PT] estava no velório. Ele era de esquerda e estão usando isso”, disse.
Luiz, que disse ser funcionário da Itaipu Binacional por 35 anos, afirmou que sentiu falta de a empresa não ter demonstrado carinho, enquanto partidos de esquerda enviaram representantes ao velório do irmão.
”Eu fui funcionário 35 anos da Itaipu Nacional. Todos sabem que sou favorável à sua causa. No velório do meu irmão tinha 35 coroas de flores, e a minha empresa, em que eu me doei, não deu uma coroa de flores”.
Luiz disse à reportagem que a família ainda não deu uma resposta definitiva sobre ir a Brasília. ”Foi feito um contato. A gente não deu um retorno definitivo se a gente vai ou não. A gente está conversando com os filhos do Marcelo, esposas, sobrinhos, a gente vai conversar para ver o que a gente vai decidir”.
Segundo ele, a família ainda não avaliou o tom da conversa. ”A gente falou algumas coisas, o presidente não se posicionou ainda, então a gente não tem como ter uma avaliação definitiva”.
Questionado sobre a frase do Bolsonaro acusando conhecidos de Marcelo de agressividade na festa, ele disse que a família também analisa isso.
Nesta terça, o presidente criticou a violência de ”petistas” que chutaram a cabeça do policial penal bolsonarista Jorge José Guaranho, que assassinou Marcelo.
Os chutes ocorreram após a troca de tiros entre os dois. Marcelo morreu e Jorge ficou ferido. No chão, foi alvo de chutes de convidados que estavam na festa do militante do PT.
Bolsonaro disse ainda esperar a conclusão da investigação ”para a gente ver que teve problema lá fora, onde o cara que morreu, que estava lá na festa, jogou pedra no vidro daquele cara que estava com o carro do lado de fora”. ”Depois, ele voltou e começou o tiroteio lá e morreu o aniversariante.”
A reportagem apurou que, entre familiares, tem incomodado a narrativa que o próprio Marcelo foi agressivo. Reclamam, por exemplo, que ele não teria atirado pedras em seu agressor, mas sim terra de um canteiro, ou seja, nada que pudesse machucá-lo.
Luiz é o irmão mais velho de Marcelo. Por indicação dele, o irmão teria prestado concurso para a Guarda Civil Municipal de Foz do Iguaçu.
Cézar Feitoza/Artur Rodrigues/Folhapress