Por mais que a campanha eleitoral não tenha começado oficialmente, as pessoas, antes alheias ao processo político, começam ligar suas antenas às escolhas futuras em outubro próximo. Apesar da distância, muitos buscam prever cenários e a inquietude para saber quem serão os vitoriosos aguçam os mais politizados e os consumidores de informações eleitorais através da imprensa ou das redes sociais. Muitos querem espremer do jornalista especializado em cobertura política uma síndrome de Madame Beatriz.
Beatriz Janovitch, conhecida como Madame Beatriz, conforme Nelson Cadena em artigo publicado em 2017, foi uma das mais famosas cartomantes de todos os tempos, que Jorge Amado imortalizou em Pastores da Noite. Chegou em Salvador, vinda do Recife, na década de 30. Se portava como quiromante apta ”a rasgar o véu misterioso do futuro”. Acertava algumas e errava tantas outras. Um dos seus erros políticos foi ter previsto que ACM, o original (como frisa Mário Kertész) seria traído por aliados e não teria sucesso político nos idos da década de 50.
Mas Madame Beatriz, com toda sua fama, permanece até hoje, principalmente, na boca dos políticos mais velhos quando querem criticar ou brincar sobre algo referente a adivinhações ou previsões. Eu, particularmente, a descobri nas minhas entrevistas com o então candidato a governador da Bahia pelo MDB, João Santana, em 2018. Ele sempre a citava quando uma pergunta exigia um exercício de futurologia.
No atual contexto, com uma polarização nacional entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) e uma disputa baiana mais acirrada que perpassa ACM Neto (UB), Jerônimo Rodrigues (PT) e João Roma (PL) ao governo, tentar prever algo é uma atitude extremamente arriscada. Mas nós, jornalistas de política, por exemplo, quando chegamos em qualquer ambiente a pergunta que surge imediatamente é: ”e aí, quem ganha?”.
Certa vez estava com um colega tomando um café em um shopping (e vale pontuar o absurdo da inflação que um expresso já está valendo um pacote de um café coado) discutíamos sobre pesquisas e os dados efusivamente. Uma senhora que estava ao nosso lado, prestou atenção e no final perguntou: ”e aí, quem ganha?”. Fui em uma loja comprar uma camisa e quando a vendedora descobriu minha profissão, logo cravou: ”e aí, quem ganha?”
Se as pesquisas, com bases científicas e estatísticas, flertam entre o erro e do acerto (2006 e 2014 erraram no governo baiano, mas acertaram em 2010 e 2018) – apesar de não balizarem os contextos, algo que um jornalista pode traduzir -, cravar nome de vitória corre o risco do descrédito. O pior para o político é ter o excesso de confiança e já tratar tudo ou todos como se já fosse o eleito.
Tendências e expectativas vão se desenhando de melhor maneira quando mais próximos estamos do pleito, mas qualquer sentimento do agora pode ser modificado em um estalar de dedos, ainda mais quando os aspectos externos podem provocar caminhos diferentes de escolha do voto. E mesmo com a proximidade e qualquer dado mais concreto, aquilo impresso pelos boletins de urna, representante da legítima vontade do povo, pode fugir de qualquer lógica. Não existe eleição ganha de véspera. Nas letras de João Sérgio (1978): Como será o amanhã? Responda quem puder…
*Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura política em sites e rádios de Salvador. Twitter: @victordojornal