No sexto dia seguido de desvalorização, o dólar encerrou esta quarta-feira (23) com a menor cotação desde o início da pandemia de Covid-19. A moeda americana cedeu 1,44%, a R$ 4,8430.
Em 13 de março de 2020, dois dias após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado a disseminação global do novo coronavírus, o dólar terminou o pregão cotado a R$ 4,8280.
Antes da conclusão das negociações pós-mercado, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, subia 0,16%, a 117.457 pontos, renovando o maior nível de fechamento desde 6 de setembro.
Ações excessivamente desvalorizadas na Bolsa, a possibilidade de ganhos no setor de commodities devido a ameaças de escassez do petróleo provocadas pela guerra na Ucrânia, além de juros domésticos altos, criam uma combinação que favorece a entrada de dólares no país. O resultado é a queda da taxa de câmbio.
Neste ano, o real apresenta a maior valorização frente à divisa americana, quando o comparado a outras 23 moedas de países emergentes.
O retorno à vista da divisa brasileira está em 15,2% no acumulado de 2022, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Corretora, diz que fluxo de recursos de investidores estrangeiros para a Bolsa é um dos principais motivos para a queda do dólar. “”O Brasil continua atrativo para eles”, afirma.
Entre janeiro e a última segunda-feira (22), o saldo da movimentação de valores realizada por investidores estrangeiros na Bolsa do Brasil estava em R$ 84 bilhões. A quantia representa 82% do saldo de R$ 102,3 bilhões de todo o ano de 2021, que registrou o recorde da série histórica. Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, reforça que o gatilho para a recente queda do dólar foi o novo choque de preços das commodities devido à invasão da Ucrânia pela Rússia. Ele destaca, porém, que esse “movimento foi exacerbado pela decisão do Banco Central de vincular a alta dos juros à elevação da cotação do petróleo”, comentou.
A valorização de commodities produzidas no Brasil já é um fator importante para a queda do dólar, pois essas mercadorias são negociadas em dólar e, naturalmente, representam uma porta de entrada para a moeda estrangeira.
“E se você ainda tem o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] dizendo que vai aumentar os juros se o petróleo subir, isso é uma força a mais [para a queda do dólar], já que os juros mais altos tendem a atrair mais capital estrangeiro para a nossa renda fixa”, comentou Caruso.
PREÇO DO BARRIL DO PETRÓLEO PASSA DOS US$ 120
Os preços do petróleo saltavam novamente nesta quarta conforme cresciam as preocupações de investidores sobre a redução dos estoques e o consequente aumento dos preços globais de energia.
No início da noite, o barril do petróleo Brent, referência mundial, avançava 5,14%, a US$ 121,42 (R$ 591,29). Com isso, a cotação da commodity se aproximava do US$ 127,98 (R$ 629,68), o maior valor registrado desde 2008.
No mercado de ações dos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram 1,29%, 1,23% e 1,32%, nessa ordem.
Clayton Castelani/Folhapress