Enquanto a cúpula nacional do Partido Popular (PP) articula nos gabinetes – dos principais alquimistas políticos do Centrão e nos desvãos do Palácio do Planalto – o ingresso do presidente Jair Bolsonaro no partido, para disputar as presidenciais de 2022, João Leão, vice-governador da Bahia – onde cuida do polêmico e faraônico projeto da construção da ponte Salvador/Itaparica (contra a qual o notável autor de “Viva o Povo Brasileiro”, João Ubaldo Ribeiro, combateu até sua morte) – e maioral da sigla partidária no estado, doublê de secretário de Planejamento do governo Rui Costa (PT), deu, esta semana, um público e inesperado ”chega pra lá” nos arranjos em curso para abrigar o atual dono do poder. Numa entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, Leão rugiu alto e bom som: ”Não vejo possibilidade de Bolsonaro se filiar ao PP”.
A declaração do chefe pepista – pai do deputado Cacá Leão, líder do governista PP na Câmara – causou impacto igual (ou ainda maior) ao da entrevista ao mesmo diário, semana passada, do deputado João Roma, ministro da Cidadania, com as burras carregadas de verbas federais, anunciando em Salvador que será candidato a governador, em confronto ao seu ex “padrinho, amigo e irmão” (como dizia antes do agora inimigo) ACM Neto – ex-prefeito da capital e secretário-geral do recém fundado União Brasil , partido resultante da fusão DEM-PSL– ”para dar espaço a Bolsonaro, que assim ter&a acute; palanque para chamar de seu, no estado porta de entrada do Nordeste, cobiçado quarto maior colégio eleitoral do País, onde o neto de ACM se prepara, com vantagem nas pesquisas até aqui, para disputar o Palácio de Ondina com o senador petista, Jaques Wagner. Encrenca à vista, portanto, e das grossas”.
O esquentado João Leão, aliado petista na Bahia, – onde o ex-presidente Lula conta com um de seus mais fiéis palanques e auditórios eleitorais no País – , que se auto–proclama “um construtor de pontes” toca em sua secretaria o projeto babilônico da ligação, sobre a Baía de Todos os Santos, da capital baiana com a deslumbrante Ilha de Itaparica, de João Ubaldo. Até aqui, tudo se resume a miragens em gráficos, estudos de viabilidade e muita papelada e propaganda eleitoreira (como de hábito acontece em projetos mirabolantes e custosos como este, que de saída está orçado em mais de R$ 6 bilhões). Enquanto articula com chineses e aliados petistas a edificação da primeira pilastra de seu son ho, o engenheiro João Leão trata de jogar areia na intenção de seu partido, de receber a filiação do mandatário, o que atrapalharia todos os seus planos atuais.
Na entrevista à TB, Leão não só fala da impossibilidade de embarque do mandatário no PP, mas aproveita para ironizar adversários: ”Se Bolsonaro se filiar ao DEM (atual União Brasil), pode ser um problema de ACM Neto. Se filiar-se ao PTB, não sei de quem será o problema – talvez de Benito Gama. Mas, no meu partido, não vejo como Bolsonaro vir para ele”, diz Em outra entrevista, na Rádio Metrópole (do ex-prefeito Mario Kertész), o filho do grande aliado petista no estado, deputado líder do PP na Câmara, Cacá Leão, foi ainda mais direto ao tratar da questão. Caso Bolsonaro se filie ao PP, afirma ele, terá que respeitar os espaços das lideranças. Pois na Bahia o PP compõe a base do governo Rui Costa, do PT, com candidatos a presidente (Lula) e a governador (Jaques Wagner), já engatilhados. Precisa desenhar o fuá que vai dar? Responda quem souber.
*por Vitor Hugo Soares, jornalista e editor do site blog Bahia em Pauta