O ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, usou um evento online de uma associação que representa instituições privadas de ensino superior para tentar explicar a declaração recente de que universidade seria para poucos.
Ribeiro disse que sua fala foi tirada de contexto, mas voltou a justificar o entendimento, citando a inadimplência do Fies (Financiamento Estudantil). Ele disse ainda que a educação pública fornece ao ensino superior alunos analfabetos e que não sabem fazer regra de três.
“Nós temos hoje 1 milhão estudantes de inadimplentes no Fies, isso pode prejudicar no futuro a questão de novos financiamentos. É por isso que falei que universidade não é para todos”, disse nesta terça-feira (17).
”Temos que tomar cuidado ao oferecermos vagas porque algumas pessoas com intuito de terem ascensão ao ensino superior, talvez alguns são os primeiros da família. Eles não têm ideia de que o fato de terem um diploma de ensino superior não é suficiente, é sim uma ferramenta importante, mas não suficiente no Brasil como hoje vivemos de ter garantido seu emprego, e depois elas não conseguem pagar o compromisso que fizeram”.
Ribeiro participou da abertura de seminário sobre educação híbrida promovido pela ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior). O encontro ainda marcou 39 anos da entidade, que trabalha pelos interesses do setor e demanda por expansão do Fies.
O programa, que financia as mensalidades em instituições privadas, vive enxugamento nos últimos anos e chega a recorde negativo sob Bolsonaro. No primeiro semestre deste ano, apenas 22.548 contratos foram fechados — no auge, em 2014, houve 732 mil novos contratos.
O ministro ocupou quase toda sua fala para se defender das críticas que recebeu após dizer, em entrevista à TV Brasil, que “universidade na verdade deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade”. Na ocasião, Ribeiro associou o entendimento à necessidade de fortalecimento do ensino técnico profissional, o que voltou a fazer nesta terça.
Sem nomear, Ribeiro fez menção ao ex-presidente Lula (PT), chamando de ”ex-presidiário”, ao defender que sua fala foi tirada de contexto. O petista criticou a fala do ministro do governo Jair Bolsonaro em entrevista à rádio CBN.
Para o ministro, há uma tentativa de ”causar mal-estar no governo do nosso presidente Bolsonaro, como um governo elitista, que quer educação apenas para as pessoas de uma classe média e alta”. Ele afirmou que isso não é verdade, e citou como argumento sua própria história na escola pública.
”É claro que foi tirada dentro de um contexto em que eu estava comparando ensino técnico ao ensino superior de graduação, mostrando de uma maneira muito clara que aquela ilusão que foi passada num passado tão recente, de que bastasse diploma de nível superior a pessoa automaticamente passaria de um patamar social para outro com emprego garantido”, disse.
Ainda no evento, Ribeiro afirmou que a queda de recursos experimentado na atual gestão não compromete a busca por melhorias na educação. Ele citou, inclusive, que resultados educacionais foram piores em anos com maior orçamento —o que não tem ligação com a realidade.
Em fala direcionada a representantes do setor privado, o ministro disse defender a expansão do Fies, apesar de ter insistido no cenário de inadimplência do programa.
A expectativa da sociedade, disse, é que a educação pública prepare os alunos de maneira conveniente para o ensino superior.
”[Que os senhores] possam receber capital humano preparado e não usar 6 meses ou 1 ano para atualizar e colocar no mesmo patamar, como tem acontecido. Alunos que são analfabetos funcionais que vêm da escolaridade pública, infelizmente, e outros que querem ascender a um profissão da área de exatas e que nem sequer sabem fazer uma regra de três simples”.
O ministro também procurou rebater críticas a outra frase dita na entrevista à TV Brasil sobre alunos com deficiência. Na ocasião, Ribeiro disse que crianças com deficiência ”atrapalhava, entre aspas, essa palavra falo com muito cuidado, atrapalhava o aprendizado dos outros”.
”Quando fiz essa referência, fiz questão de falar ‘quero colocar entre aspas essa observação’. O inclusivismo, que foi política do governo anterior, pega criança com deficiência e joga na sala de aula. E sem nenhum preparo, sem nenhuma capacitação”, disse. ”Temos alguns [estudantes] com grau de autismo severo, que criam dificuldade para elas e para outros alunos, foi nesse contexto [a minha fala]’.
A legislação prevê a inclusão desses alunos em escolas regulares, posição que o governo atual não concorda totalmente. Um decreto do MEC (Ministério da Educação) sobre educação especial, que prevê segregação de alunos, está suspenso por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
Paulo Saldaña/Folhapress