Ando cheio de medo e fico percebendo quão frouxo eu sou. Quando vejo multidões pelo mundo quase todo – neste planeta que uns acreditam piamente que é plano e reto, ignorando as curvas e esquinas – não tem dado a menor ousadia para o Covid-19 e ele que vá pipocar no inferno, fico pasmo. Minha pergunta é uma: será que sou a única pessoa no mundo que está com medo de ir para as festas de paredão, daquelas que bombam nas periferias da Bahia, da Espanha, da França e tantas plagas cá e por lá? Tenho medo de ir a boates, de restaurantes cheios, de supermercados com filas imensas em que ninguém respeita o distanciamento e tem até quem chegue tão junto que a gente sente o bafo no cangote, o que a pessoa comeu no almoço e até a marca do desodorante.
Fico cheio de receio de ir à praia – onde me garantem – tem bastante brisa, é local aberto e com salitres – porque hoje tem mais gente do que peixinhos no mar e cada pedaço de areia é disputado por multidões jogando futebol, peteca, futevôlei ou correndo atrás das crianças e dos cachorros e bebendo sua cervejinha com quitutes trazidos de casa, e ninguém come de máscaras, mesmo que elas sejam transparentes como essas que estão sendo usadas pelos políticos em campanha, para mostrar o sorriso Kolynos, ou seria Colgate…
Vejo os metrôs cheios, os ônibus lotados e os pontos com gente aboletada, boa parte sem máscaras. Os ferrys boats nem é bom citar. Não sei se a senhora viu, mas uma mulher mal educada, sem máscara, estava num ônibus numa cidade do civilizado Canadá e quando um rapaz foi reclamar ela cuspiu em sua direção. O rapaz a empurrou para fora do ônibus. Foi mal. Mas, pode acreditar que neste novo normal de agora para o futuro essas e outras serão cenas rotineiras. Uns querendo cobrar segurança dos outros e – como ocorre neste mundo que uns dizem que é plano -, ignorando as quebradas, haverá uma divisão de ideário e atitudes, como ocorre na seara política.
Fico arrepiado quando vejo a multidão aglomerada nas áreas de barzinhos, como no Rio Vermelho, bairro boêmio da velha Salvador, Cidade da Bahia, paralelo 13, ou na velha Mouraria ou sob os coqueiros de Itapuã – que já não tem tantos coqueiros assim. Vou prestar mais atenção. E, se verificar que depois das festas de fim de ano e logo após as passagens dos turistas que virão contaminados de tudo que é lugar da Terra – que uns dizem ser plana, ignorando as reentrâncias, cânions e vielas – metade dos brasileiros não se foram dessa para uma melhor, saio e irei com muita sede ao pote. Eu sei! Eu sei que aí é que mora o perigo. Mas, se somente eu não estou enfrentando o perigo?
*Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista