Por causa do novo coronavírus, o governo italiano anunciou na noite desta segunda-feira (9) que o deslocamento de pessoas está proibido em todo o país, ampliando, menos de 48 horas depois, as restrições impostas à região da Lombardia e a outras cidades do norte. A partir desta terça (10), a circulação dentro da Itália está vetada, a não ser por motivo de saúde, trabalho ou ”casos de necessidade”.
O mesmo vale para quem pretende sair ou entrar no país, independentemente do lugar de destino ou origem.
Com mais de 9.000 casos positivos e 463 mortos (até 18h de segunda-feira), a Itália, com 60 milhões de habitantes, é o primeiro país a entrar inteiramente em quarentena por causa do coronavírus. É também o mais afetado pelo covid-19 além da China, onde a emergência sanitária começou, em janeiro.
“Não existe mais zona vermelha, uma zona um ou uma zona dois. Haverá a Itália. Uma Itália zona protegida”, afirmou o primeiro-ministro Giuseppe Conte, em entrevista para jornalistas nesta noite, quando anunciou o teor do novo decreto.
“Os números nos dizem que está havendo um crescimento considerável de contágios, de pessoas internadas em terapia intensiva e semi-intensiva e vítimas”, disse. “A decisão certa hoje é ficar em casa. O futuro da Itália está em nossas mãos, que devem ser mãos responsáveis, mais do que nunca. Cada um deve fazer a sua parte”, pediu Conte.
No domingo (8), cerca de 16 milhões de italianos acordaram impedidos de viajar livremente na região mais rica do país, a Lombardia, e em outras cidades do norte da Itália, como Veneza, por causa do novo coronavírus, até pelo menos o dia 3 de abril.
Segundo informações das autoridades sanitárias italianas, há 5.049 contaminados internados, sendo 733 em unidades de terapia intensiva. O sistema de saúde da Lombardia, a área mais rica do país, e de cidades vizinhas está perto do colapso, com hospitais lotados e carência de médicos e enfermeiros.
Com a intenção de barrar a difusão do vírus, as medidas restritivas valem, pelo menos, até o dia 3 de abril. Até lá, todas as escolas continuam fechadas, assim como estão vetadas atividades culturais (museus, cinemas e teatros), missas, cerimônias civis (casamentos e funerais) e eventos esportivos. O campeonato da Série A de futebol, que já teve diversas partidas adiadas ou realizadas sem torcidas, está suspenso.
Bares e restaurantes só podem funcionar até as 18h. Lojas, supermercados e demais estabelecimentos comerciais podem abrir desde que tenham condições de respeitar a distância mínima de um metro de distância entre os clientes.
Os cidadãos que estão fora da própria cidade estão autorizados a voltar para casa. Todos os deslocamentos, inclusive o de turistas, dependem da autorização dos agentes de segurança, que, em tese, vão exigir um documento com os dados pessoais e o motivo da viagem. O módulo a ser preenchido está disponível online.
A autocertificação, que já estava sendo usada nesta segunda na região norte, é considerada um instrumento frágil de controle. Conte, no entanto, reforçou que se o documento for, depois, comprovado como falso, seu autor será submetido a sanções criminais. Os sistemas de transporte municipais e regionais não serão interrompidos.
Nesta segunda (9), os pontos de controle começaram a funcionar em cidades da Lombardia e vizinhança, com policiais checando um a um nas estações de trens, aeroportos e estradas.
A ampliação das restrições da região norte para todo o país aconteceu depois que vários cidadãos tentaram escapar da área que entrou em quarentena neste domingo.
O rascunho do decreto com as duras medidas foi publicado pelos jornais italianos no início da noite de sábado (7), levando a um corre-corre a estações de trem e terminais de ônibus, com pessoas embarcando com destino às cidades do sul. Agora, todo tipo de deslocamento está vetado.
O decreto do governo italiano também provocou, nesta segunda (9), rebeliões em 28 centros de detenção do país, com prisioneiros protestando contra a suspensão das visitas e das saídas de quem vive em regime de semiliberdade. Ao menos sete pessoas morreram em Módena e mais de 30 fugiram em Foggia.
A Itália é o segundo país mais afetado pela doença, atrás apenas da China, onde a epidemia teve início no final de 2019. O país europeu já registrou mais de 9.000 casos de infecção e 463 mortes. Já a China continental teve mais de 80 mil casos da doença e 3.008 mortes até a segunda-feira (9).
A imprensa europeia relatou corridas às estações e aeroportos para deixar a zona de quarentena antes que os controles fossem impostos, o que pode ter espalhado ainda mais o coronavírus.
Além da restrição de mobilidade, museus, casas de espetáculo e outros pontos de aglomeração foram fechados em todo o país, e casamentos, missas e funerais, suspensos. O decreto também estabelece que as pessoas fiquem a pelo menos um metro de distância das outras em mercados, restaurantes ou igrejas.
A Hungria interrompeu todos os voos para o norte da Itália e a concessão de vistos para iranianos. Também cancelou as cerimônias de seu dia nacional, 15 de março, e suspendeu visitas a hospitais.
A Suíça anunciou o fechamento de sua fronteira com a Itália, a não ser para quem comprove que trabalha no país vizinho —cerca de 80 mil italianos atravessam diariamente a fronteira com a Suíça para trabalhar, segundo o governo suíço.
A medida drástica tomada pelo governo italiano aumentou o nível de alerta em outros países, tanto pelo medo de contágio semelhante quanto pelos prejuízos que esse tipo de ação pode trazer. Da Folhapress