A configuração geográfica de Cairu, no baixo sul da Bahia, uma das jóias da coroa portuguesa no período colonial, é singular. Com 36 ilhas, três delas, a própria Cairu (única ligada ao continente, por uma ponte), Tinharé (onde fica Morro de São Paulo) e Boipeba, points turísticos, é o único município arquipélago do Brasil.
É óbvio que lá as duas atividades principais são turismo e pesca, ambas feridas na alma, doendo em todos os corações, de ponta a ponta. Hildécio Meirelles, três vezes prefeito, ex-deputado, resume o drama:
— O jornal francês Le Monde disse que esse desastre é o Chernobyl brasileiro. Assino embaixo. É uma catástrofe que dilacera nossa alma. Esperamos que isso passe logo. E que descubram a origem dessa tragédia.
Em Moreré
Fernando Amorim, fotógrafo que se aposentou e adotou Boipeba como morada, estava ontem na linha de frente das praias de Cueira e Moreré, onde o óleo chegou em pequenos pedaços, mas em grande profusão:
— O óleo escorraçou o povo. Quem estava nos hotéis e pousadas pediu as contas, e quem tinha feito reservas cancelou. Hoje (ontem) vimos em Moreré uma coisa nunca vista, restaurantes ao meio dia fechados. Um horror.
Segundo Fernando, quando o sol bate e esquenta o óleo, acontece o pior:
— Parte dele derrete e entra na água, fica invisível, mas deixa o mar oleoso.
Para uma área como Cairu, com manguezais por todos os lados, é um terror.
Emergência
Em Ituberá, Leandro Ramos (PSB), prefeito de Igrapiúna e presidente do Consórcio Intermunicipal da Área de Proteção Ambiental (Ciapra), reuniu os colegas da região:
– Tivemos que decretar estado de emergência.
Dos 13 municípios do baixo sul integrantes do consórcio, sete têm conexões com o mar: Cairu, Camamu, Igrapiúna, Ituberá, Nilo Peçanha, Taperoá e Valença. Ontem, a Marinha mandou reforços.
Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.