O procurador Deltan Dallagnol considerou durante mais de um ano se candidatar ao Senado nas eleições de 2018, revelam mensagens trocadas via Telegram e publicadas em reportagem do Intercept na noite desta terça-feira (4). Segundo a publicação, num chat consigo mesmo, que funcionava como espaço de reflexão do procurador, ele chegou a se considerar ”provavelmente eleito”. Também avaliou que a mudança que desejava implantar no país dependeria de ”o MPF lançar um candidato por Estado” —uma evidente atuação partidária do Ministério Público Federal, proibida pela Constituição.
As mensagens também indicam que a candidatura não era meramente um plano pessoal de Dallagnol. Mas, diante de um ”sistema político derrubado”, diz o Intercept, um desejo de procuradores que ia além da Lava Jato e do Paraná. A reportagem mostra que, em mais de um momento, ele afirma que teria apoio da força-tarefa caso decidisse concorrer, o que indica que isso foi tema de debates internos.
O procurador também dá a entender ter tratado da candidatura com figuras como o jurista Joaquim Falcão, professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, ex-presidente da Fundação Roberto Marinho e membro da Academia Brasileira de Letras.
Apesar de levar em conta relatos de conselheiros que viam a política como algo que estava em seu destino, Dallagnol decidiu no fim de 2017 permanecer procurador da República, mas não abandonou a ideia de ver seu retrato nas urnas eletrônicas.
”Tenhoapenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, escreveu, em 29 de janeiro de 2018, numa longa mensagem enviada para ele mesmo.
A referência é ao senador paranaense Alvaro Dias, do Podemos, aliado da Lava Jato e poupado pelas investigações da operação, cujo mandato termina em 2022. Dallagnol havia recebido um convite para ser candidato ao Senado naquele mês —justamente pelo partido de Dias— entregue por outro procurador da Lava Jato, Diogo Castor de Mattos. Poucos dias depois, fez a longa ponderação em que pesava os prós e contras de uma aventura política, também em um texto que enviou pelo Telegram para si próprio.
Na reflexão, ele se via dividido entre três opções. A primeira era se candidatar ao Senado, pois julgava que seria ”facilmente eleito” e via ”circunstâncias apontando possivelmente nessa direção”, entre elas o fato de que ”todos na LJ apoiariam a decisão” de apresentar seu nome aos eleitores, em suas próprias palavras.