As conversas do aplicativo Telegram obtidos pelo site The Intercept e publicados pelo jornal Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (26) revelam que o procurador Deltan Dallagnol conversou com colegas da força-tarefa da Lava Jato sobre uma palestra remunerada que realizou a uma empresa citada em delação premiada da própria operação.
A Neoway, que contratou Deltan por R$ 33 mil, foi mencionada pela primeira vez em um documento de colaboração que foi incluído em um chat dos procuradores da operação em março de 2016, dois anos antes da palestra.
Além de participar do evento, o procurador também tentou marcar uma reunião para que outros membros da força-tarefa conhecessem os produtos da marca.
”Caros podem receber a Neoway de bigdata na segunda para apresentar os produtos???? Ou quarta?”, diz Deltan, que acrescenta: ”Como fiz um contato bom aqui valeria estar junto. Eles estão considerando fazer de graça. O MP-MG está contratando com inexigibilidade”.
Mais conversas
Quatro meses após a palestra, em um chat, Deltan afirmou a outros procuradores que havia descoberto a citação à empresa na delação premiada do lobista do MDB Jorge Luz, que atuava em busca de vantagens em contratos da Petrobras e subsidiárias.
”Isso é um pepino pra mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LJ), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada”, afirmou o procurador na conversa. A situação levou Deltan e outros procuradores que haviam mantido contato com a Neoway a deixarem as investigações relativas a Jorge Luz.