O que mais me impressiona na codificação pública do bolsonarismo é que nós temos, agora, milhões de especialistas em comunicação que têm a receita perfeita para derrubar Bolsonaro.
São milhões de técnicos de futebol que sabem escalar o melhor time, pôr em prática a melhor estratégia e catimbar o jogo para irritar o adversário e vencer de goleada.
Todos no sofá se lambuzando com os próprios textões-elixires de um novo mundo que ninguém viu, só eles.
O enunciado padrão de início é sempre o mesmo: “a esquerda não está entendendo nada”. Depois vem o festival de vaticínios, tão clichês quanto autoritários.
É um efeito colateral bastante vulgar do real encurralamento discursivo que se impõe, de fato, como desafio de comunicação.
O problema é a testosterona (em geral, são ‘esquerdistas’ macho-alfa): reduzir o desafio complexo de encurralar o bolsonarismo a meia-dúzia de lugares-comuns associados à desqualificação da ‘concorrência’ progressista é sabotagem pura.
É pavonice aplicada, coisa que coloca esses “gênios” da “solução final” ao lado dos bolsonaristas.
O bolsonarismo, caras pálidas, está ruindo sozinho. Não precisa de fórmulas mágicas. Gleisi Hoffmann vale por toda essa população de ‘especialistas’ de rede social – com todo respeito à redes e aos especialistas (não dá para escapar dos sintagmas estereotipados aqui, sorry).
A vaidade-macha ainda mata o Brasil (já matou, na verdade).
Mulheres são melhores em tudo, francamente. Elas são a antítese acabada desse fetiche masculino de ‘pegar na pistola’. São elas que irão dar uma resposta retórica (e prática) à altura diante desse decreto macabro.
O pensamento e a política precisam se ‘feminizar’ urgentemente. Lula é isso. Lula pensa como uma mulher (e luta como uma).
O resto é testosterona barata.
Por Gustavo Conde, linguista e colunista do site Brasil 247