Basta olhar para uma criança que sentimos no peito a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento humano. E se você é pai ou mãe, sabe que quando esses pequenos precisam sair de casa para ir à escola é um Deus nos acuda. O coração fica apertado por demais. Brincadeiras à parte, esse é um momento muito importante no desenvolvimento da criança e essa ruptura é essencial para que ela possa ser uma criança que deseja e caminha com seus próprios pés.
A escolha da escola precisa ser feita com cuidado porque seu papel é de muita relevância na formação da vida. É esse ambiente onde vai ocorrer o convívio com outras pessoas que vai fazer a criança adquirir experiência de todos os tipos. Na escola, ela irá experimentar, comparar, inventar, registrar, descobrir, perguntar, trocar informações. Assim, vai construindo o seu conhecimento sobre o mundo e desenvolvendo sua atenção e inteligência.
A aprendizagem é um processo de mudanças, de conhecimento, de comportamento que se obtém através das vivências construídas por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Por isso, é de suma importância reconhecer os espaços, senti-los como agradáveis, e assim a criança estabelecerá vínculos sólidos, promovendo segurança, confiança e afeto. Cabe ressaltar que a escola deve manter um espaço de diálogo e respeito em relação à criança (ao educando), pois é um lugar de continuidade da formação do cidadão já que não é possível separar o momento do aprendizado do momento de construção emocional.
Segundo Freud, o processo de aprendizagem depende da motivação para busca do conhecimento. Quem tem contato com crianças sabe que, desde muito pequenas, elas querem descobrir o mundo. Logo nos primeiros passos, deixa o adulto agoniado, de tanto “não” que precisa dizer, pois elas não têm noção do perigo e mexem em tudo o que veem.
A angústia das diferenças é o que
leva a criança a querer saber
No seu processo de descoberta, a criança, tem a necessidade de definir seu lugar no mundo. Nessa fase, a interpretação da descoberta da diferença sexual anatômica é de suma importância. Essa descoberta depende de como a criança extraiu da relação com o pai e a mãe as referências para se definir como homem ou como mulher. E, desta forma, esta descoberta implica em entender que, de alguma forma, alguma coisa falta. Logo, surge a angústia das perdas, que Freud chamou de angústia da castração.
A angústia das diferenças é o que leva a criança a querer saber, e assim partem para as investigações sexuais infantis. Essas investigações podem ocorrer através de perguntas sobre a origem das coisas por exemplo. Porque, como não somos só instinto e vivemos em uma cultura, logo a criança fica sabendo que certos assuntos devem ser tratados de uma outra maneira e de forma, até mesmo, inconsciente (não é que a criança faça estratégias elaboradíssimas) esses assuntos são sublimados, trabalhados de maneira inconsciente pelo psíquico e se transformam em “pulsão de saber”. Transforma-se em curiosidade agora dirigida, porque sublimada, a objetos de modo geral a depender dos estímulos externos e do que tem vivenciado no seu cotidiano.
Isso aponta para o que Ausubel (1982) nos diz sobre a aprendizagem. Ele fala da aprendizagem significativa, na qual são necessárias duas condições. Em primeiro lugar, é preciso ter uma disposição para aprender, pois se quiser memorizar o conteúdo arbitrário e literalmente a aprendizagem será mecânica. Em segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo, ou seja, ele tem que ter lógica e ser psicologicamente significativo. O significado lógico depende do conteúdo, e o significado psicológico da experiência que cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz naturalmente uma filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio.
É certo que a aprendizagem é uma modificação relativamente duradoura do comportamento através de treino, experiência e observação. Para que provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial da criança, ela deve perceber a relação entre o que está aprendendo e a sua vida, pois as pessoas aprendem de maneiras diversas, conforme diferentes elementos. (Cunha e Ferla, 2002).
Diante de tudo isto, a família e o professor devem estar atentos. A relação entre professor e aluno é complicada, porque só o desejo do professor justifica que ele esteja ali na sala de aula, mas, estando ali, ele precisa renunciar a este desejo e se colocar à disposição do desejos do outro (dos alunos). O professor tem que perceber a importância da subjetividade do aluno, percebendo que não poderá exigir dele um comportamento robotizado, fazendo com que este aluno seja apenas protótipo do professor. O aluno deve ser estimulado a criar e recriar seu conhecimento e, por meio dessa relação, criar seu próprio caminho de aprendizado.
Priscila Almeida é psicóloga clínica especialista em saúde mental, psicanálise e em trânsito.