O resultado da voz das ruas para alguns, a execução de um atentado à democracia para outros, mas o certo é que os acontecimentos do dia 11 de maio mudaram o cenário, o rumo e a rota do nosso país, pois, mesmo que uns não queiram, deram contornos definitivos ao prenúncio de um fim melancólico para o mandato da primeira mulher chefe de governo republicano no Brasil.
Vítima de seu temperamento prepotente e arrogante, aliado à incapacidade administrativa e a uma inabilidade inadmissível a uma chefe de governo para negociar com o Congresso, a outrora denominada “Mãe do PAC” (Plano de Aceleração do Crescimento), além de perder a governabilidade e a popularidade, entra para a história como a mãe da pior crise ética, política e econômica da história deste país.
Se a crise política teve como maior vítima a própria mandatária, com reflexos em toda a República, o fato de Michel Temer formar um Ministério sem mulheres e sem negros, abriu um novo debate sobre o machismo e o racismo na política. Afinal, este é o primeiro time de ministros exclusivamente masculino desde a gestão do presidente Ernesto Geisel, durante a ditadura militar.
Nesse sentido, não faltou quem, mesmo sendo favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, passasse a ver o governo Temer com cara de passado, principalmente porque, além da ausência de mulheres e de representantes de outras minorias e dos movimentos sociais, na reforma administrativa implementada com o objetivo de reduzir os custos da máquina pública, procedeu-se à incorporação da Secretaria das Mulheres ao Ministério da Justiça que passará a ser chamado de Ministério da Justiça e Cidadania.
O lugar que as mulheres vêm conquistando é pela consciência de que o mundo masculino não lhes bastaria
Em meio à polêmica que se estabeleceu nas redes sociais e na mídia, também não faltou quem, em alto e bom som, se rebelasse quanto à ditadura do politicamente correto, recusando-se a aceitar a presença das mulheres e de outras minorias no novo ministério apenas como um simbolismo da forma de fazer política, promovendo justiça, inclusão, equidade e mudança. Afinal, o lugar que as mulheres vêm conquistando é por mérito, por luta e pela consciência de que o mundo masculino, independentemente de coloração ou ideologia, não lhes bastaria.
Do tempo em que a casa era a regra e o mundo político a exceção até os dias atuais é uma longa e inacabada jornada, portanto, entendo a decepção de muitas mulheres com a vida politica nacional, pois diante de perdas o sentimento de luto emerge. Nesse sentido, enquanto muitas brasileiras estão de luto pelo afastamento da presidente, outras também o vivenciam por não se verem representadas no primeiro escalão da equipe de governo que tomou posse no lugar da que foi substituída.
Não estou iludido de que o provável fim da gestão Dilma Rousseff seja o ponto final dos graves problemas políticos e econômicos que estamos vivenciando neste país, mas, com certeza, é um caminho de esperança para uma nação em crise que perdeu a fé na sua primeira governante.
A sorte está lançada! Que seja a história a juíza de si mesma. Nessa lógica, não é sem sentido que tudo isso acontece em um mês que, como o próprio nome indica, parece dedicado às mulheres e, coincidentemente, não por outra razão, também se inicia com “m”: de mãe, de Marias. Assim, não tenho dúvidas de que esse luto substantivo, jamais deixará de ser verbo, pronto para ser conjugado, a qualquer hora e lugar, na conquista de espaços que, historicamente, sempre lhes foram sonegados.
Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.