Após ser notificada sobre o afastamento de 180 dias, na manhã desta quinta-feira (12/5) a presidente Dilma Rousseff (PT) fez um pronunciamento emocionado no Palácio do Planalto. Ressaltando ter sido a primeira presidente do país, Dilma voltou a dizer que não cometeu crime e disse que vive ”a dor inominável da injustiça”. ”Fui eleita presidenta por 54 milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros, e é nessa condição, de presidenta eleita pelos 54 milhões, que eu me dirijo a vocês nesse momento decisivo para a democracia brasileira e para o nosso futuro como nação. O que está em jogo não é apenas o meu mandato, o que está em jogo é o respeito às urnas, a vontade soberana do povo brasileiro e a Constituição. O que está em jogo são as conquistas do últimos 13 anos, os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, aos jovens, chegando às universidades e escolas técnicas, valorização do salário mínimo, médicos atendendo a população”, disse. De acordo com a presidente, desde que foi reeleita, ela tem sido ”perseguida por uma oposição inconformada”. ”[A oposição] pediu recontagem dos votos, tentou anular as eleições e passou a conspirar abertamente pelo meu impeachment. Mergulharam o país em um estado permanente de crise e impediram o crescimento da economia, com o objetivo de tomar à força o que não conquistaram com legitimidade. Meu governo é alvo de sabotagem. O objetivo é me impedir de governar e forjar o ambiente propício ao golpe. Quando uma presidente é cassada sob acusação de um crime que não cometeu, o nome que se dá a isso no mundo democrático não é impeachment. É golpe. Não cometi crime de responsabilidade, não há razão para impeachment. Não tenho conta no exterior, nunca recebi propinas. Esse processo é um processo frágil juridicamente, inconsistente, injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. A maior das brutalidades que pode ser cometida a um ser humano é ser punido por um crime que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente”, afirmou.
A petista lembrou as torturas da Ditadura Militar e disse que sofre ”a pior das injustiças” ao ser afastada do cargo. “Sofri a dor indizível da tortura, a dor aflitiva da doença, e, agora, sofro, mais uma vez, a dor inominável da injustiça. O que mais dói nesse momento é a injustiça, é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política. Mas não esmoreço. Olho para trás e vejo tudo que fizemos. Olho para frente e vejo tudo que ainda precisamos fazer”, disse, emocionada, arrancando palmas e gritos de ”Dilma guerreira da pátria brasileira” dos presentes. Acompanhada de apoiadores do seu governo, Dilma citou ainda a ”farsa jurídica” do processo e, convocando os brasileiros a ”se manterem unidos e resistirem”, disse que não vai deixar de lutar pela presidência. ”O Brasil não pode ser o primeiro a fazer isso. Quero dizer que o golpe não visa apenas me destituir, uma presidente eleita pelo voto de milhões de brasileiros, voto direto e uma eleição justa. Ao destituir meu governo, querem na verdade impedir a execução do programa que foi escolhido pelos votos majoritários. O golpe ameaça não só a democracia, mas as conquistas que a população alcançou nas ultimas décadas. Tenho sido também uma fiadora zelosa do estado democrático do governo”, concluiu a presidente afastada, que deixou o Palácio do Planalto pela lateral do prédio, acompanhada de Jaques Wagner, e foi saudar os cerca de 4 mil manifestantes que ocupavam a entrada do palácio.