A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) usou grande parte do seu discurso no plenário do Senado, na madrugada desta quinta-feira (12), para criticar os antigos aliados do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) que agora apoiam o impeachment. ”Nunca um governo foi tão sordidamente traído como esse, por deputados e partidos que até ontem dele participavam e usufruíam de suas benesses e cargos”, disse a baiana, 46ª a falar durante a sessão que decidirá sobre a abertura do processo contra Dilma. Para Lídice, nenhum dos senadores ou deputados que se posicionaram sobre o processo conseguiu ”comprovar de forma cristalina e juridicamente incontestável” que a presidente cometeu crime de responsabilidade. ”O que menos se ouve é a comprovação do cometimento de crime de responsabilidade, substituído pelo falacioso argumento do conjunto da obra”, aí incluídas a crise econômica, o cruel desemprego, a difícil personalidade e a falta de diálogo da Presidenta, entre outros, num flagrante desrespeito aos princípios constitucionais”, criticou. A senadora classificou o processo como ”contaminado por um grave e irreparável pecado original: o de ter sido urdido, iniciado e conduzido, num gesto de vingança pessoal, pelo presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha”. Apesar de reafirmar críticas feitas anteriormente à gestão de Dilma, Lídice defendeu que o impeachment não será a solução para a crise que o país enfrenta. Em seu discurso, ela comparou o vice-presidente Michel Temer (PMDB) a Itamar Franco, que assumiu a presidência em 1992 depois de um processo semelhante ao então presidente Fernando Collor: enquanto o primeiro ”se recolheu ao silêncio e à discrição até o julgamento final”, Temer teria transformado o Palácio do Jaburu ”num comitê eleitoral pró-impeachment, arregimentando votos de deputados a favor da admissibilidade do processo, em troca de promessas de benesses, espaços e cargos”. ”Os anúncios de montagem desse novo governo, uma verdadeira e escandalosa feira de cargos, antes mesmo da manifestação do Senado Federal, foi uma clara atitude conspiratória que faria corar Frank Underwood, personagem da série de TV House Off Cards, em que um vice-presidente dos Estados Unidos conspira nas sombras para derrubar o presidente eleito e tomar-lhe o lugar”, avaliou.