As pessoas não toleram mais as adversidades da vida e o recurso que têm utilizado para enfrentar tem sido o uso abusivo dos fármacos, a compra compulsiva, o uso incessante das redes sociais. Há uma intensa necessidade de apaziguar sentimentos com um recurso vindo de fora, assim fica tudo na ordem do outro. Estar diante de si e de suas questões desvela no ser o ato de se responsabilizar perante a vida – quem está preparado?
Ancorado no discurso consumista, poucos são os questionamentos sobre a realidade à sua volta. Vive-se a vida como mero espectador, não como protagonista. Num ambiente incerto como o atual, o consumo aparece como resposta à satisfação das ansiedades experimentadas. É disso que o sociólogo Bauman vai tratar quando aponta a transformação da vida humana em objeto de consumo na contemporaneidade.
Bauman define como “modernidade líquida” o cenário da sociedade, devido às mudanças rápidas que ocorrem sem haver um embasamento firme ou algo que dê forma. A sociedade se adapta às situações como a água, de acordo com o recipiente em que é inserida. As interações sociais e os laços afetivos estão cada vez mais frágeis, rápidos, econômicos.
O sujeito é possuído pelo
objeto e não o possui
A oferta de escolhas é enorme e cada um pode agarrar uma oportunidade e levá-la consigo em sua jornada. Nada remete a questões singulares do sujeito, há um tamponamento da subjetividade. “Afinal de contas, perguntar ‘quem você é’ só faz sentido se você acredita que pode ser outra coisa além de você mesmo” (Bauman, 2005). O mundo está repartido em fragmentos mal ajustados e as existências individuais seguem o mesmo parâmetro. Elas estão fatiadas numa sucessão de episódios fragilmente conectados.
Estamos vivenciando a cultura do narcisismo que opera no sistema “goze quanto e como puder”. Gozo das sensações imediatas e superficiais. Verifica-se uma instabilidade, uma incerteza, uma fluidez no pensar e no agir. O mal-estar ocorre, porque hoje há uma liberdade em busca do prazer sem limites.
Diante do discurso capitalista o sujeito desaparece frente aos objetos que tamponam as falhas e questões existenciais. Há um brilho sobre o objeto (medicação, smartphones, tecnologias etc) que se move a todo instante. O sujeito fica assujeitado à imagem, ao virtual e permanece em um consumo bulímico do objeto, consome e rapidamente descarta. Uma tentativa incessante de tamponar a falta, a dificuldade em lidar com suas questões.
Dessa maneira, o sujeito é possuído pelo objeto e não o possui. Fica escravo, perde o rumo, se intoxica. Com a oferta em larga escala dos objetos de consumo, dos remédios, das novas tecnologias, o sujeito se angustia. E diante da angústia fica o vazio, aquilo que não é possível explicar, dizer.
*Por Priscila Almeida