”A lição de Juscelino Kubitschek”

SebastiaoNery

Ninguém me contou, eu vi. Foi há muito tempo, na década de 50. Eu morava, estudava e trabalhava em Minas como jornalista político (“O Diário”, “Diário da Tarde”e “Jornal do Povo”do Partido Comunista). Juscelino havia resistido ao golpe que levou Getúlio ao suicídio em 24 de agosto de 1954 e era candidato natural do PSD, do PTB e das esquerdas à Presidência da República em 1955.

Todos os dias invariavelmente íamos ao Palácio da Liberdade ver o governador e saber o que havia no pais e em Minas. Juscelino era um forte sitiado. A UDN mobilizou um cerco nacional no Congresso, na imprensa e sobretudo nos quartéis para vetar e impedir a candidatura de JK. Ele nunca perdeu o sorriso aberto com os olhos apertados.

Enfrentou tudo: a oposição desvairada de Lacerda na imprensa, o jogo duplo, às vezes triplo, de Assis Chateaubriand e Roberto Marinho nos seus jornais e televisão,  e sobretudo a resistência de uma banda do PSD dentro do seu partido, a começar por Benedito Valadares em Minas.

MINAS

Dias atrás uma jornalista perguntou ao senador Aécio Neves se ele se sentia um homem de sorte. Respondeu tranquilamente:

– Eu sou é determinado. Quando decido vou em frente.

Esta foi a grande lição que o Aécio recebeu de Juscelino e herdou do avô Tancredo Neves. Ser determinado e vencer os obstáculos. O que a UDN fez naquela época para detonar a candidatura de Juscelino pareceria hoje inacreditável. Só não era pior do que a artilharia bandida do PT hoje.

A UDN de Minas, achando pouco ter quase a unanimidade da imprensa nacional, ainda criou um jornal de luta, bem feito, bem escrito, com dinheiro à vontade: “Correio do Dia”. Nele escreviam os líderes nacionais da UDN como os de Minas, a maioria nossos brilhantes e queridos professores nas faculdades de Direito e de Filosofia.

Nas salas de aula eram sábios varões gregos. Nos palanques e jornais, demônios: Pedro Aleixo, Milton Campos, J M de Carvalho, José Cabral, Horta Pereira, Afonso Arinos, tantos outros. Pareciam imbatíveis, no entanto foram derrotados todos, um a um, e mais seus aliados Magalhães Pinto, Zezinho Bonifácio, pelo determinado Juscelino.

Para ganhar tiveram que rasgar a história libertária de Minas, inclusive o valente Manifesto dos Mineiros de 1943, indo buscar nos quartéis os generais hoje envergonhados do golpe de 1964. JK resistiu a tudo, venceu dentro de seu partido, o PSD, ganhou o apoio dos trabalhistas e da esquerda e em 1955 elegeu-se  Presidente.

Por Sebastião Nery