Primeira-dama Janja será nomeada para cargo oficial sem remuneração no Palácio do Planalto

Primeira-dama Rosângela Lula da Silva. Foto: Reprodução

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, deve ser nomeada para um cargo não remunerado no Palácio do Planalto, com o objetivo de institucionalizar a participação em cerimônias e reuniões em diferentes estruturas do governo.

Nos dois primeiros meses de governo, Janja, que é socióloga, não teve um cargo definido. Apesar disso, ela assumiu postura de protagonismo e despachou diariamente do Palácio do Planalto. Agora, o posto voluntário de Janja deve ficar numa estrutura nova: o Gabinete de Ações Estratégicas em Políticas Públicas. A ideia é que o cargo seja de articulação política entre diferentes áreas da Esplanada e de aconselhamento ao presidente da República.

A primeira-dama costuma dizer que quer ressignificar o papel tradicionalmente reservado às esposas dos mandatários. A ideia do novo Gabinete de Ações Estratégicas em Políticas Públicas é de acompanhar e relatar ao mandatário como está o andamento de pautas consideradas prioritárias ao chefe do Executivo. Não caberá a ela, segundo interlocutores, a proposição ou execução de políticas públicas.

O cargo será não remunerado, uma vez que o governo não pode empregar familiares do presidente. Neste gabinete, estarão os quatro assessores que já trabalham com Janja. O plano é que a agenda de trabalho dela tenha visibilidade, inclusive com a divulgação diária dos seus compromissos públicos.

De acordo com auxiliares palacianos, a proposta começou a ser desenhada ainda na transição, por determinação de Lula. Janja já despacha no terceiro andar do Planalto, o mesmo do gabinete presidencial. Sua sala já tem uma placa com o nome da nova função, mas a estrutura ainda deve ser oficializada em publicação no Diário Oficial da União.

As últimas antecessoras de Janja tiveram atuação mais discreta e participaram como presidentes de conselho voltado para políticas de assistência social. No caso de Michelle Bolsonaro, ela comandou o Pátria Voluntária, extinto pelo governo Lula. Já Marcela Temer foi embaixadora do Criança Feliz.

Janja, por sua vez, não quer trabalhar num único projeto. Segundo relatos, sua ideia é usar sua experiência profissional e de militância política para contribuir para um conjunto de políticas públicas, que é o seu interesse maior; e atuar naquilo que o presidente julgar estratégico.

Ainda que seu cargo não esteja formalizado, Janja participou de reuniões em ministérios, como na Cultura. Na ocasião, ela acompanhou a criação dos comitês de cultura, uma promessa eleitoral de Lula. Além disso, organizou encontros com a sociedade civil, como o café da manhã com influenciadores, e depois um encontro em alusão ao mês da mulher com ministras, presidentes de bancos públicos e imprensa.

Outra pauta considerada relevante para a primeira-dama no gabinete é a segurança alimentar. Quando ela trabalhou em Itaipu, foi coordenadora de um programa sobre o tema. Nesse sentido, Janja participou da primeira plenária do relançamento do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), no Planalto, na última terça-feira (28).

”Estou completamente à disposição do Consea. Quero participar das discussões, porque eu aprendo muito aqui. A gente pode rodar o Brasil levando essa questão da segurança alimentar e vamos novamente lutar para tirar o Brasil do mapa da fome. Como o presidente Lula falou, a gente já fez e faz de novo, é o desafio”, disse. Também participaram do evento os ministros Márcio Macedo (Secretaria-Geral) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social).

Além disso, nesta semana, a primeira-dama foi anfitriã de um café da manhã para inaugurar o mês da mulher e abordou outro tema que deve ser tratado pelo futuro gabinete: os casos de feminicídio no país.

”Esse tema da violência contra mulher é um tema que, para mim, é muito pessoal participar, que eu vou com todas minhas forças trabalhar junto com o Ministério das Mulheres e com a sociedade civil para que a gente não possa mais mandar mensagem de força para uma mulher baleada por seu namorado e companheiro”, disse Janja.

Ela acrescentou então chegar ao índice zero de feminicídio e acabar com a fome talvez sejam ”uma obsessão do governo”. O tema também foi pauta de uma reunião no Planalto na última quinta-feira (2) entre Janja, a ministra da Mulher, Cida Gonçalves, e a da Igualdade Racial, Anielle Franco. As duas têm bastante afinidade com a primeira-dama.

Marianna Holanda/Victoria Azevedo/Folhapress