O papa Francisco rezou neste domingo (25) pela família de Emanuela Orlandi, estudante que desapareceu no Vaticano em 1983, em um caso intrigante que despertou solidariedade, virou tema de série e acaba de completar 40 anos sem conclusões.
Filha de um funcionário do Vaticano, Orlandi tinha 15 anos quando não voltou para casa após aula de música no centro de Roma. O caso nunca foi solucionado, e a família pressiona publicamente por investigações.
Na oração do Angelus, o papa disse que desejava “expressar mais uma vez proximidade à família dela, especialmente à mãe”. Dirigiu-se à multidão na praça de São Pedro, onde estava Pietro Orlandi, irmão da vítima, e um grupo de apoiadores que seguravam fotografias e faixas pedindo “verdade” e “justiça”.
O Vaticano foi acusado pela família de dificultar as investigações por anos. O irmão de Emanuela disse, após as falas de Francisco, que “rezar é um sinal de esperança para alcançar a verdade”. Para ele, talvez esteja chegando a hora de avançar na investigação.
Neste ano, a Procuradoria-Geral do Vaticano e o Ministério Público de Roma reabriram investigações com possíveis pistas. Segundo o jornal britânico The Guardian, o foco da apuração, porém, será o caso de Mirella Gregori, que desapareceu em Roma semanas antes de Orlandi. Acredita-se que os dois episódios tenham ligações.
As teorias sobre o desaparecimento da menina, nunca comprovadas, variam desde especulações de que estava ela foi sequestrada para obter a liberação de Mehmet Ali Agça, turco que tentou assassinar o papa João Paulo 2º em 1981, até suposições de que foi vítima de padres pedófilos.
Uma ex-companheira do criminoso Enrico de Pedis, suspeito de pertencer à máfia e a setores de finanças do Vaticano, também acusou-o de ter sequestrado a jovem e enterrado o corpo dela.
A adolescente teria sido sequestrada pela Banda della Magliana, grupo criminoso liderado por Pedis, para recuperar um empréstimo de um ex-presidente do Banco do Vaticano, Paul Marcinkus. Assim, o desaparecimento teria sido uma retaliação da máfia.
No início deste ano, Pietro Orlandi, o irmão, mostrou na TV italiana gravações de áudio de um suposto gângster afirmando que meninas eram levadas ao Vaticano para serem molestadas e que João Paulo 2º sabia disso. Em abril, o papa Francisco chamou as acusações de “insinuações ofensivas e infundadas”.
Em outubro do ano passado, a Netflix lançou a série “A Garota Desaparecida do Vaticano”, que conta a história do desaparecimento. Na série, o irmão de Orlandi afirma que o papa Francisco teria dito que ela “está no céu” –indicando, de acordo com a família, que o Vaticano sabe o que aconteceu com a jovem. A produção da Netflix levanta outras hipóteses: a de que a adolescente foi levada a Londres, onde permaneceu em um albergue católico até 1997, e a de que foi abusada por um membro do Vaticano dias antes de seu desaparecimento.
Na oração deste domingo, o pontífice argentino também rezou por todos que possuem algum familiar desaparecido. “Estendo minha memória a todas as famílias que carregam essa dor.” No início de junho, Francisco passou por uma cirurgia na região abdominal. Ele recebeu alta após nove dias, no último dia 16, e retomou a agenda no Vaticano.