Caiu como uma bomba em Brasília a divulgação de trechos de conversas gravadas nos quais Romero Jucá (PMDB), ministro do Planejamento, sugeriu um pacto ao ex-presidente da Transpetro [empresa subsidiária da Petrobras], Sérgio Machado, para barrar o avanço da Operação Lava Jato. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso aos áudios, a conversa aconteceu semanas antes da votação do impeachment na Câmara dos Deputados. No diálogo, Machado, que é investigado pela operação, comenta: ”o [Rodrigo] Janot (Procurador Geral da República) está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. […] Ele acha que eu sou o caixa de vocês”. Na conversa, Machado sugere que seja feito um pacto nacional com o presidente interino, Michel Temer. “É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional”, diz. Em resposta, Jucá afirma que o pacto deveria envolver o Supremo Tribunal Federal (STF). “Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha”, diz o ministro sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Com a repercussão negativa do caso, Jucá, que já havia se defendido mais cedo fez um pronunciamento seguido de coletiva em Brasília, negando as denúncias e reafirmou ”apoio à Operação Lava Jato”. A estratégia do peemedebista foi desqualificar a matéria da Folha: “O diálogo foi de forma extensa. O que vemos na Folha de S. Paulo são frases soltas dentro de um diálogo que ocorreu. Então, é importante explicar o contexto. Quero reafirmar que as análises que fiz, assim como os comentários que fiz, são de domínio público”. Posteriormente, o ministro deu a entender que seu desejo maior é que a condução da Operação Lava Jato seja feita de forma independente: “Nunca tratei com ninguém do Supremo Tribunal Federal ou Ministério Público Federal para interferir nos resultados das investigações. Sempre reafirmei que considero a Lava Jato uma mudança positiva na política brasileira”. Jucá afirmou ainda que se tivesse ”telhado de vidro” não teria enfrentado o PT no atual momento da política: “Não tenho temor em ser investigado na Lava Jato ou outra investigação. Se tivesse telhado de vidro não teria assumido a presidência do PMDB num momento de confronto com o PT para ajudar a conduzir o processo de afastamento da presidente Dilma apoiando o impeachment”. Ele também adiantou que não vai deixar o cargo: ”Vou exercer o cargo com plenitude enquanto estiver com apoio do presidente”.
No mesmo pronunciamento, Romero Jucá disse ser ”o maior interessado que não paire qualquer dúvida”. Logo após, ele abriu o microfone para perguntas dos jornalistas. Questionado sobre queda da bolsa e alta do dólar após divulgação dos áudios, ele afirmou que ”isso é questão de interpretação e que não dá para afirmar que a causa sejam as notícias” em relação ao escândalo. Sobre um possível afastamento para blindar o governo, ele afirmou que esteve nesta manhã com o presidente em exercício Michel Temer, que pediu que ele prestasse os esclarecimentos necessários: ”da minha parte, entendo que uma coisa é a operação Lava Jato no governo do PT, cuja direção é envolvida diretamente, outra coisa é a operação no governo Temer, que prioriza as investigações. O governo Temer tem apenas pessoas mencionadas, até porque não houve prova de que cometi delitos. Se surgir algo concreto contra mim eu responderei e o presidente irá avaliar. Repito, o cargo é do presidente e ele é quem decide. Eu prestei os esclarecimentos e não vejo motivos para eu pedir afastamento, pois estou bem tranquilo, não me sinto atrapalhando o governo. Mas aguardarei uma posição do presidente Michel Temer”.
Questionado sobre o que faria caso estivesse no lugar do presidente, ele foi enfático: ”Não posso falar prelo presidente, até porque estou dentro e não fujo do embate. Esse governo vai criar muitas dificuldades criadas por adversários e setores que querem fomentar crises”. Questionado sobre se realmente acha que o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB) está de fato ”morto”, ele tentou explicar: ”Analisando a questão da política um pouco antes do impeachment, foi dito que a solução Michel fortaleceria Eduardo Cunha. Eu disse que pensava diferente, que Eduardo tinha os problemas dele e não ia interferir. O Eduardo está morto, coitado, ele não ia deixar as coisas dele pra interferir”.