O ex-presidente Lula criticou o clima na política criado pela oposição e o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em conversa com Mário Kertész, na manhã desta sexta-feira (23/10), na Rádio Metrópole de Salvador. ”Ninguém perdeu mais eleições que eu. Eu perdi em São Paulo, eu perdi [para a presidência em] 1994, 1998. Quando no México, Calderón ganhou as eleições, o candidato da oposição ocupou a principal avenida da cidade. Os meios de comunicação passaram seis meses falando disso, que ele não queria deixar o presidente governar”, lembrou.
Ele recordou-se também de uma conversa com um empresário. ”Ele disse: ‘Agora que eu aprendi como o Brasil é bom, porque o senhor perdeu tantas eleições e eu não vi o senhor fazer um minuto de protesto. Perdeu, tocou a vida pra frente’. Eu falei: ‘Como é bom a gente sair daqui, pra valorizar esse país’. Muitas vezes a gente olha os outros e fala mal da gente, e a gente é extraordinariamente bom. A eleição já foi muito virulenta. Você me viu ser candidato contra o Collor, contra o FHC, e você nunca me viu falar um palavrão, eu faltar com o respeito como se faltou com a Dilma na eleição. Coisa que falavam pra ela que você não tem coragem de falar pra pessoa da sua rua que você mais odeia”, disse. Lula afirmou que o momento econômico do país não pode servir de justificativa para um impedimento da presidente. ”São valores. Você tem um ódio disseminado que não tem explicação, não tem muita explicação. Você não pode dizer que é um problema econômico, porque o Brasil não tá no melhor momento, mas comparando a nós mesmos. Se comparamos com a Europa, nessa crise o Brasil sofreu menos do que eles. A Europa desempregou 63 milhões de postos de trabalho, e nós chegamos a 2014 com 4% de desemprego, o menor índice da história do pais e melhor que muitos países europeus”, explicou.
Sobre o impeachment, Lula foi direto: ”Não há nenhuma razão jurídica, nenhuma explicação a não ser a atitude irracional de querer fazer o impeachment. Eu não acredito, porque seria uma coisa tão irracional, de tanta instabilidade, porque aí todo mundo que ganhar as eleições, a oposição vai estar nas ruas pedindo impeachment. Eu não posso pedir impeachment teu [MK] porque não gostei de uma entrevista sua, ou porque você atrasou meia hora. Impeachment é um instrumento jurídico e político muito consequente, que tem que ser usado quando o presidente tenha desrespeitado a constituição e a sociedade brasileira, que não é o caso da Dilma, que é uma mulher de moral e ética, que tem história nesse país”, afirmou. ”Você não pode pedir impeachment de todos os prefeitos desse país. Faça a pesquisa de quantos prefeitos estão bem avaliados. O momento é difícil! É difícil pra Dilma, é difícil pros governadores, é difícil pros prefeitos. Essa discussão sobre impeachment começou errada. Mas as pessoas tão tomando juízo, muito juízo. e isso vai acabar logo”, completou.