A notícia de que o novo coronavírus havia sido detectado em um cão na cidade de Hong Kong deixou alguns tutores de animais domésticos confusos sobre a possibilidade do seu pet transmitir a doença. Confirmada pelo Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação de Hong Kong, a informação primária é de que o animal não apresentou nenhum sintoma e que o teste será refeito para verificar se o cachorro foi realmente infectado pelo vírus ou se o resultado foi alterado por algum tipo de contaminação ambiental.
Apesar do susto, segundo a médica veterinária Nádia Rossi, não há motivo para pânico entre donos de cães ou gatos, ou criadores de animais no geral. De acordo com o Membro da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA) e coordenadora do Laboratório de viroses da Ufba, a falta de informações sobre o teste realizado no cão de Hong Kong invalida qualquer certeza de que os animais domésticos representem formas de infecção.
”Ainda existem muitos estudos para serem feitos, até agora foi um cachorro só, não é uma amostra representativa. O próprio governo fala que pode ter sido uma contaminação ambiental e sugerem um reteste que até agora não foi divulgado o resultado. Outra coisa, eles nem falam qual foi o teste feito”, afirmou em entrevista ao A Tarde.
”Gerou-se um pânico, uma coisa generalizada, em cima de uma notícia que a princípio não tem nenhum valor científico para gente. Pelo contrário, gera uma preocupação muito grande com relação a abandono e maus tratos”, continuou.
Em um primeiro momento, a suspeita era de que o pangolim, animal em risco de extinção, cuja carne é consumida na China, seria o responsável por transmitir o covid-19 ao ser humano. No entanto, segundo Nádia, alguns estudos apontam que a origem do problema possa estar no morcego.
”O que se sabe até hoje sobre esse covid-19 é que ele de fato é uma zoonose (doenças infecciosas capazes de ser transmitidas entre animais e seres humanos). Com o morcego pode ser mais fácil de acontecer, pois ele está em qualquer lugar, seja ambiente domiciliar ou urbano por conta do desmatamento. A gente acaba tendo um contato indireto”, disse.
Para a veterinária, vale um estudo aprofundado sobre a participação do morcego, mais conhecidos por transmitirem raiva, na disseminação de outros vírus. Porém, ela reforça a importância do animal para o meio ambiente e chama a atenção contra qualquer tipo de mau trato.
”Não podemos criminalizar ou matar os morcegos. Eles são muito importantes para a gente. São grandes polinizadores depois das abelhas. Só as pesquisas que precisam estar um pouquinho mais voltadas às viroses de morcego, porque a gente tem percebido que os coronavírus são zoonóticos”, defendeu.
Outros tipos de Coronavírus
Ainda não há provas ou evidências de que os pets possam contrair ou transmitir o covid-19, no entanto, gatos e cachorros estão passíveis de serem infectados por outros tipos de coronavírus. Mas conforme adianta Nádia, as doenças só atingem suas respectivas espécies e não são transmitidas para humanos.
O cachorro pode apresentar dois tipos de coronavírus. Um dos vírus causa diarreia no animal e o outro, que lembra os sintomas observados no covid-19, provoca problemas respiratórios.
”A diarreia é aguda, mas não chega a ser fatal. Já na doença respiratória, o outro tipo de coronavírus é observado na chamada ‘Tosse dos Canis’, que é como se fosse uma gripe nos cães”, explicou.
O gato também pode sofrer com a família viral por meio do Coronavírus Entérico Felino, mas sem maiores consequências. O perigo é se o vírus sofrer uma mutação e favorecer o surgimento de Peritonite Infecciosa Felina (FIPV), que é fatal para o animal.
No caso do cão, é possível prevenir doença por meio da vacina polivalente V8. Já para o gato ainda não existe vacina licenciada. Não há recomendações para os pets, que devem manter em dia as visitas ao veterinário e não usarem álcool em gel.
E quanto ao ser humano? Existe alguma forma de prevenção? Pensando no além da recomendação geral de lavar bem as mãos e usar o álcool em gel, Nádia acredita que o combate a desinformação em torno do coronavírus pode ajudar bastante no combate da doença e dos mitos em torno dela.
”Infelizmente estamos lidando com muita fake news. O Ministério da Saúde disponibiliza um canal bacana para isso. Tem um grupo de pesquisadores com um médico veterinário também. Então, nada de compartilhar desinformação para não causar morte de cão e gato, que a gente acha até que não tem relação nenhuma com o coronavírus”, recomendou.