Mas será o Benedito? Deputada estadual contratou empresa de limpeza para prestar serviço de marketing ao mandato

A deputada estadual Cláudia Oliveira (PSD) pagou mais de R$ 58 mil para que uma empresa de limpeza de Lauro de Freitas prestasse serviço de marketing ao mandato, entre o primeiro semestre de 2023 e 2024. Pelo menos é o que consta na aba Transparência, do site da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA).

Em junho de 2023, o mandato da social-democrata efetuou um pagamento de R$ 10 mil, referente ao mês de abril, e outro de R$ 15 mil, referente ao mês de maio à empresa RRA Servicos Combinados de Apoio a Edificios, Servicos de Limpeza, Manutenção e Locação de Veículos LTDA. A empresa, cujo nome fantasia é OWL Service, está ativa na Receita Federal desde dezembro de 2019. Em fevereiro e março de 2024, os pagamentos foram de R$ 19,3 mil e R$ 13,8 mil, respectivamente, totalizando R$ 58,1 mil.

A informação não chegou ao Bahia Notícias através de denúncia. O episódio chamou atenção a partir da análise do próprio site sobre os gastos dos deputados estaduais, pré-candidatos a prefeito nas eleições de outubro, com publicidade. No mês de julho, o BN publicou o ranking dos deputados mais “gastões”, em que a deputada aparece na quarta posição em 2023 e na terceira posição em 2024.

Claudia Oliveira é ex-prefeita de Porto Seguro, no extremo sul do Estado, e aspira retornar ao cargo. A convenção que confirmou seu nome na disputa foi realizada no último sábado (27) e reuniu milhares de pessoas, entre elas, o governador Jerônimo Rodrigues (PT). Ela recebeu mensagens de apoio de figuras de peso como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e dos senadores Jaques Wagner (PT), Angelo Coronel e Otto Alencar, ambos do PSD.

Ainda que no CNPJ da empresa, número 35.687.467/0001-36, exista o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) cadastrado para Marketing Direto, chamou atenção o fato de a empresa não ter nenhum registro na internet, embora venda este tipo de serviço. O BN pesquisou, durante dias, se a OWL Service tem perfis nas redes sociais ou site institucional, de forma que o seu portfólio pudesse ser avaliado por um cliente em potencial, e não encontrou nenhum vestígio de sua existência. O endereço cadastrado na Receita também está relacionado a outras empresas, dando a entender que pode ser de um escritório virtual.

No dia 15 de julho, o BN entrou em contato com o telefone informado no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica e procurou por Jean Reis, pessoa que aparece como proprietário. Quem atendeu a ligação foi uma mulher de prenome Laís, que, conforme o BN descobriu, é sua sócia. Foi externado o interesse num orçamento para o serviço de marketing durante a campanha eleitoral, ao qual ela respondeu que ”não sabia passar informações a respeito, pois a empresa é do tio”. Foi pedido o telefone de Jean, e Laís respondeu que ”entraria em contato com ele para dar o recado”. Ele jamais retornou a ligação.

Às 18h do dia 17 de julho, o Bahia Notícias enviou um e-mail para Jean no mesmo endereço eletrônico informado na nota fiscal emitida para a deputada Cláudia Oliveira, simulando o interesse em contratar a OWL Service para gerenciar três perfis de candidatos nas eleições deste ano. Também foi citado que uma tentativa de contato já havia sido feita com sua sócia Laís e que havia pressa no retorno, devido ao curto prazo para contratação dos prestadores de serviço para esta campanha. Não houve resposta.

O QUE DIZ A DEPUTADA
Às 19h37 do dia 23 de julho, a reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da deputada Cláudia Oliveira pelo WhatsApp e, na sequência, formalizou um pedido de esclarecimento por e-mail. O BN quis saber quais foram os serviços prestados pela empresa ao mandato; se a contratação se deu por indicação ou se o prestador de serviço é antigo; e como foi avaliado o serviço de marketing, já que não existe nenhum portfólio on-line, tampouco site institucional e redes sociais.

O BN cobrou um ”status” da demanda à assessoria findado o prazo estipulado por e-mail: às 16h do dia seguinte, 24 de julho. A mensagem no WhatsApp, embora visualizada, não foi respondida. A reportagem esperou por mais de uma semana por uma resposta, mas nunca houve nenhum tipo de retorno, nem por e-mail, nem por mensagem. A deputada Cláudia Oliveira também foi contatada, sem sucesso. No mês de julho, a Assembleia Legislativa estava em recesso parlamentar, portanto, não foi possível contatá-la no gabinete.