Rui tem razão: o melhor é extinguir o Tribunal!

Rodrigo Daniel Silva, jornalista

A coerência e a política nem sempre andam de mãos dadas. Aliás, em boa parte do tempo, estão separadas. Há seis anos, o então governador da Bahia, hoje ministro da Casa Civil, Rui Costa, defendia extinguir o Tribunal de Contas dos Municípios, o TCM. O petista argumentava que a medida economizaria R$ 200 milhões por ano, um valor que é possível erguer um Centro de Convenções e um hospital municipal, como os de Salvador. “Toda economia que puder ser transformada em investimento em educação, saúde e infraestrutura é bem-vinda”, afirmou na época.

Agora, Rui parece ter mudado de ideia. Tem articulado intensamente para emplacar a sua esposa, Aline Peixoto, como conselheira do TCM. Se o nome for aprovado pela Assembleia Legislativa da Bahia depois do Carnaval, ela passará a ter cargo vitalício e um bufunfa de R$ 40 mil por mês. Não é nada mal, né caro leitor? Pesa contra ela o fato de não ter um currículo consistente para ocupar o posto e supostamente um adversário político chamado Jaques Wagner. Por outro lado, a ex-primeira-dama tem a seu favor o apoio implícito do governador Jerônimo Rodrigues, que parece disposto a ceder o necessário para eleger a companheira do correligionário. Aliás, ele já avisou que pagará as emendas dos deputados estaduais, que são os eleitores neste pleito interno.

O governo Jerônimo está dividido entre o petismo de Rui Costa e o petismo de Jaques Wagner. O primeiro, por enquanto, prevalece na nova gestão. O petismo de Rui, como vimos nos últimos anos, é um petismo com cara de carlismo. ”O Rui se parece muito mais com um governador do PFL do que com um governador do PT. No sentido de que a oferta eleitoral dele é muito menos em termos de políticas sociais, por exemplo, e muito mais em termos de realização de obras. Ele é um grande realizador de obras. Esse perfil é que nos acostumamos como o perfil do PFL”, observou, certa feita, o professor da Ufba, Wilson Gomes.

Também professor da Ufba, Paulo Fábio Dantas Neto anotou que o esquema governista liderado pelo PT tem tido uma concessão ”ao populismo, ao fisiologismo, à política tradicional”. ”Além disso, com conexões muito claras, com interesses econômicos, que não são propriamente de uma tradição de esquerda”, acrescentou. Se no governo Wagner já havia essas concessões, com Rui Costa se aprofundou.

Ainda é cedo para afirmar qual será o petismo de Jerônimo, mas a indicação de Aline Peixoto a priori pode ser vista como o petismo com rosto de carlismo. Era no modelo carlista que muitas vezes os interesses privados eram sobrepostos aos interesses públicos. Muita gente tem lembrado, nas últimas semanas, do dia em que o senador Antonio Carlos Magalhães tentou eleger o desembargador Amadiz Barreto presidente do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Amadiz Barreto era pai da advogada baiana Adriana Barreto, com quem, segundo admitiu a própria à revista Veja, ACM manteve ”um romance de alguns anos”. Geração vai e geração vem, e nada há novo debaixo do sol mesmo, nos diz Eclesiastes.

O certo, caro leitor, é que, se o Tribunal de Contas dos Municípios só serve para ser “cabide de emprego” e para homologar as contas dos prefeitos, Rui Costa tem razão mesmo: o melhor é extinguir!

*Rodrigo Daniel Silva é repórter da Tribuna e escreve quinzenalmente