‘Rêmoras, Urubus, Hienas e Babões’

Karoline-Vital

Eu não me lembro de quando aprendi sobre relações ecológicas, na escola. Aquele lance dos modos de relacionamento entre seres vivos de diferentes espécies: comensalismo, mutualismo, inquilinismo, parasitismo, etc. Em que série foi eu não sei, mas tenho certeza absoluta de que faz muito tempo!

Há alguns dias, assistindo à série prematuramente cancelada The Crazy Ones (assim como a vida de seu protagonista, Robin Williams), fui lembrada do relacionamento entre as rêmoras e os tubarões, chamado comensalismo. Como os pequenos peixes se grudam com ventosas para se alimentar dos alimentos que caem da bocarra dos grandões e ainda viajam longas distâncias. Outras relações – que a Wikipedia me ajudou a recordar – são entre os seres humanos e os urubus, as hienas e os leões.

Em tempos de campanha eleitoral, podemos incluir a relação ecológica entre os políticos e os babões. Funciona bem parecido com o papel desempenhado pelas rêmoras, urubus e hienas. Arrumam um “poderoso” para colar e beliscar alguma coisinha que o grandão não faça muita questão. Como se trata de alguém insignificante para o provedor, não causa incômodo ou prejuízo.

Muitos comensais políticos se orgulham de sua condição. Afinal, além de alimento, ainda ganham proteção e passeios gratuitos. Ser babão é seu meio de vida, pois não sabem fazer muita coisa útil. Pelo seu papel na relação, não abocanham nada grandioso. Se muito, uma boca-livre em um restaurante devidamente paga com dinheiro público, uma gasolina, um vale em um supermercado, ingressos para eventos, e até, quem sabe, algum cargo comissionado de pequeno porte, cuja função não seja muito específica e nem exija qualificação profissional.

Os babões não acrescentam em nada na vida do político provedor. Uns fazem questão de valorizar os seus feitos dispensáveis e as vantagens que conseguiu para si e os seus chegados, principalmente quando estão entre pessoas de fora do seu ambiente “profissional”. Porque entre os “peixes maiores”, se muito, são motivo de piada, do quanto mostram os fundilhos ao se abaixar catando os restos.

Cômicos de verdade são os babões que sofrem de mania de perseguição. Mas os motivos reais e concretos do desespero se perdem entre achismos e fofocas ilógicas. Apesar da aparente falta de noção, eles sabem que seu papel insignificante torna-os facilmente descartáveis. Por isso, sustentam o sentimento constante de uma conspiração que coloca suas migalhas em xeque.

Em época de campanha, os babões ostentam a praguinha do candidato no peito como uma medalha de honra. Saem colando adesivos nas janelas de casa, no carro, na moto, na agenda, naquela pasta cheia de papéis velhos que ninguém sabe a serventia. Ligam para os programas de rádio defendendo o seu candidato, postam ofensas em blogs ou perfis de adversários. Em caminhadas, conferências e qualquer tipo de reunião onde seu político esteja, urram o nome do seu provedor e batem palmas tão alto até esfolar as mãos, se assim for preciso. Afinal, não é o político que estão defendendo, e sim a própria sobrevivência.

Karoline Vital é jornalista