Polícia Federal rastreia entrega de propina no dia da festa de 15 anos da filha de Geddel

Geddel segue preso na Papuda. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A Polícia Federal (PF) comprovou a versão do operador Lúcio Funaro sobre a entrega de propina ao ex-ministro Geddel Vieira Lima no dia da festa de 15 anos da filha do político, em 2014, em Salvador. Em seu acordo de delação premiada, Funaro relatou ter entregue R$ 800 mil a Geddel em um hotel, no dia 22 de março de 2014, mesmo dia da festa. As informações estão no relatório final da Operação Cui Bono, que investiga irregularidades na Caixa Econômica Federal. A PF indiciou 16 pessoas, entre elas Funaro, Geddel, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) e o empresário Joesley Batista, conforme antecipou o “Jornal Nacional” na semana passada. Há o registro de que o avião de Funaro ficou estacionado em Salvador entre 00h15 do dia 22 de março e 15h30 do dia 23 de março. Além disso, o Hotel Pestana confirmou que o operador e sua mulher, Raquel Pitta, estiveram hospedados no local nessa data. Os registros dos telefones dos dois também mostram uma ligação entre eles nas proximidades do hotel, no dia 23 de março. O relatório da PF diz que a “possível permanência por um período prolongado deve ter se dado em razão da indisponibilidade de Geddel, tendo em vista a hora da chegada e a possível ocupação com a festa de debutante de sua filha”. O operador disse que o ex-ministro foi ao seu encontro no hotel, e que a entrega do dinheiro ocorreu no carro de Geddel, um Cherokee. A PF confirmou a propriedade no veículo na declaração de bens apresentada pelo emedebista na Justiça Eleitoral naquele mesmo ano, quando ele concorreu ao cargo de senador. De acordo com o relatório, o depoimento de Funaro também bate com as planilhas de pagamento de propina que ele apresentou, como parte de sua delação. Os documentos registram o saque de R$ 800 mil no dia 19 de março, com um doleiro, e o pagamento dos mesmos R$ 800 mill, acompanhados das iniciais “lf/g”. De acordo com Funaro, “lf” se refere a ele próprio, e “g” se refere a Geddel. Para a PF, a trajetória do saque do dinheiro e da viagem se “encontra em harmonia com os registros telefônicos e contábeis de Lúcio Funaro, datado de 21/03/2014, na planilha de entregas de dinheiro a Geddel Vieira Lima, de pagamento de R$ 800.000, e com relato de Funaro de que teria ido a Salvador/BA, em sua aeronave, para proceder à entrega de dinheiro em espécie nas mãos de Geddel”. A festa da filha de Geddel reuniu diversos políticos, entre eles os então pré-candidatos à Presidência Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB); o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) e Eduardo Cunha, então líder do MDB na Câmara. A entrega de dinheiro no hotel, contudo, foi uma exceção. Funaro relatou outras sete ocasiões — entre janeiro e novembro de 2014 — em que propina era entregue em um hangar no aeroporto de Salvador. Em todas dessas ocasiões, o avião do operador ficou estacionado por no máximo 2 horas e meia — sendo que, em seis delas, a permanência não passou de 45 minutos. Para PF, esse curto espaço de tempo é um indicativo que ele só estava em Salvador para fazer a entrega de dinheiro. Também há registros, nas planilhas pessoais do Funaro, dos repasses. O Globo