O voto de Minas Gerais

SebastiaoNeryBMF

Barbosa Lima Sobrinho, pelo PSD, e Neto Campelo Júnior, pela UDN, tinham disputado o governo de Pernambuco depois da ditadura de Getúlio, em 1947: Barbosa Lima, candidato de Agamenon Magalhães, e Neto Campelo, ministro da Agricultura de Dutra, candidato da Oposição.

Na apuração, quase empate. Urna a urna, Pernambuco disputava, pelas rádios e alto-falantes, voto por voto. Ganhou Barbosa Lima. Mas houve muitas urnas impugnadas e as decisões passaram para o Tribunal Eleitoral. Continuou o impasse. Nas esquinas, nos bares, nas casas, o povo ao pé do rádio e dos alto-falantes para saber da chegada final.

Nequinho Azevedo, figura popular do Recife, estava num botequim torcendo por Barbosa Lima. Era a última decisão sobre a última urna, onde Barbosa Lima havia vencido bem. Anulada, estaria derrotado.

BARBOSA LIMA

O locutor fez um suspense:

– Atenção, senhoras e senhores, última urna! O Tribunal aprovou a urna pelo voto de Minerva! Confirmada a eleição de Barbosa Lima!

Começou a festa. Nequinho Azevedo, cheio de cachaça, comemorava. Alguém perguntou lá do fundo:

– O que é o voto de Minerva?

Ninguém respondeu, Nequinho pôs o copo no balcão:

– Um voto maior do que os outros.

– De que tamanho?

– Vale uns 300.

Valia mais. Valia a eleição.

MINAS

Quem conhece Minas sabe : mineiro não vota contra governo.

O primeiro que votou, Tiradentes, perdeu o pescoço. E nunca mais ninguém ousou. Aécio Neves, mineiro, mineiríssimo, dois avós ilustres (Tancredo Neves e Tristão da Cunha), disputou com a gaucha Dilma, que apenas nasceu em Minas; mas saiu da votação tomando chimarrão.

Minas decidiu. Ganhou a eleição. Com o governo. Contra Minas.

*Por Sebastião Nery