O que tenho a ver com a roupa suja da OAB?

O Brasil está cada vez mais doido e a doideira atinge até as instituições onde seus componentes estão quase que saindo aos tapas, perdendo o ciso e fazendo de entidades históricas uma arena ou seria uma bica onde as velhas senhoras lavam suas roupas sujas, expondo suas manchas e pruridos. Deixei passar a eleição na OAB-Bahia para tocar no assunto.

A OAB-Bahia de tantas glórias e memórias, notadamente no período em que enfrentamos por vários modos e meios a ditadura dos militares, com seus dirigentes dando a cara à tapa, abrindo o peito e peitando as baionetas, nos últimos anos deu para parecer grêmio estudantil, reunião de partido, reunião de condomínio, reunião de conselho de clubinho social.

Nos clubes o que se vê hoje – face a decadência da absoluta maioria, pelo menos na Bahia –, briga-se em busca de um equivocado “lustre social”, como se aquele passado de glória, onde grandes e respeitados nomes da indústria, comércio e da produção agrícola serviam de base para um “glamour” e conviver ao lado – pensava-se – gerada a evolução social por osmose. E na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção da Bahia?

Interessante a luta fratricida entre aqueles que buscaram concorrer no pleito para a nova diretoria. Lavaram roupa suja no meio da rua. Se ofenderam, mostraram o lado que consideram de incompetência dos outros e da inoperância do sistema. Daí eu pergunto: e nosotros, o que temos a ver com isso? Onde nós, meros mortais sem toga e sem fazermos prova de advogado entramos na luta? Porque recebi folder esculhambativos se não sendo advogado não tenho direito ao voto? Só se for para achincalhe geral. Fofoca. Veneno.

Fiquei pasmo quando durante algumas semanas presenciei carretas de candidatos, com bandeiras palavras de ordem (até achei que tinha perdido o bonde da história e as eleições para deputado ou vereador, ou sei lá o quê tinha voltado nem bem acabara). Eram carretas, tomada de territórios, ações de cabeça de ponte nas hostes do inimigo. Mas, não se pense que é de agora. A questão da briga intestina na OAB é de longo tempo, onde quem passou levou a pecha de desonesto, presidentes tiveram imagens manchadas. Quem saiu perdendo? A classe. E depois de tudo? Aos vencedores as batatas. Qual o ganho que uma posição na entidade de classe oferece para tanta animosidade? O que leva ao conflito aberto, uma tentativa de desmoralização de outrem? O poder pelo poder talvez; pela sensação, domínio, influencia. Ou às vezes é mera possessão. Quem sabe, é a boa e velha sensação de sevir ao próximo. Vá saber.

Vamos esperar que agora que a OAB tem um novo presidente, que venceu a eleição realizada na quarta-feira, 21, (a chapa “Avança OAB” ) seja dado um exemplo de bom tom, para que não fique parecendo aquilo que o Brasil se transformou, onde a eleição para presidente da República parece que não acabou, que está apenas começando e quem ganhou fica na sensação que perdeu e quem perdeu acha que ganhou e não levou e com isso perdemos todos com tanto estresse.

Que a OAB se dedique intensamente a cuidar dos seus profissionais em busca de propostas que sejam verdadeiros avanços. Que os advogados se unam e façam desta instituição um ícone como foi, para honra e glória e que feche as fontes externas para que a roupa seja lavada em seu foro íntimo. Que viva a OAB.

Escritor e jornalista: [email protected]