Mesmo com Haddad derrotado, Rui Costa sai vitorioso das urnas e emerge como força do PT

Rui recebeu a maior votação nominal do PT. Foto: Diego Mascarenhas

Para muitos, o PT foi o grande derrotado das eleições de 2018, após Fernando Haddad (PT) perder para Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno. Não há muito o que discordar dessa avaliação. No entanto, o partido ainda seguiu com o maior número de governadores e deve passar por um processo de reinvenção para se manter articulado para as próximas eleições. Isso inclui a revisão dos discursos e das ações que colocaram a legenda entre as principais forças políticas do país. Porém, em meio ao cenário de terra arrasada, um petista não tem do que reclamar da sorte: o governador reeleito da Bahia, Rui Costa.

Rui recebeu a maior votação nominal do PT em todo o país, perdendo apenas, obviamente, para o candidato à Presidência da República. Saiu vitorioso com mais de 74% dos votos no primeiro turno e catapultou aliados para o Senado, para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa da Bahia. E, entre um turno e outro, conseguiu ampliar a votação de Haddad na Bahia, dando mais um milhão de votos ao petista em território baiano. Mais votos do que o próprio Rui obteve na reeleição.

Em 1º de janeiro de 2019, o PT inicia o quarto mandato consecutivo no comando da Bahia e dá sinais de que pode deixar de ser protagonista no próximo pleito para o Palácio de Ondina. Ciclos de poder de 16 anos são suficientes para render frutos, mas também desgastes. Talvez por isso o senador Jaques Wagner tenha sinalizado essa hipótese já após o primeiro turno. No entanto, ainda é cedo para prever os próximos passos da correlação de forças entre as legendas baianas. O que se sabe é que Rui deve conduzir esse processo e estará cada vez mais fortalecido dentro da própria sigla.

Caso Haddad saísse vitorioso das urnas, possivelmente seria ele o grande nome do Partido dos Trabalhadores nos próximos anos. Inicialmente ele até será alçado à condição de principal porta-voz da oposição. No entanto, com o fogo-amigo de ex-aliados como Ciro Gomes (PDT), é provável que a derrota para Bolsonaro custe mais do que o ex-prefeito de São Paulo possa pagar. Por isso, a escolha dele para entrar na jaula do leão não foi completamente despropositada. Entre os petistas de grosso calibre, Haddad seria mais facilmente descartável do que outras lideranças que começam a surgir.

Nesse ponto, entra Rui. Com o resultado das urnas, o governador está legitimado para brigar por um lugar de destaque dentro do próprio partido. E deve fazê-lo. Mesmo com um antipetismo forte, o baiano conseguiu se manter bem avaliado e se descolou da imagem clássica da esquerda. É um gestor e suas ações falam mais do que a história política por trás do partido ao qual é filiado. Os números do Nordeste sugerem que é necessária a emergência de um nome da região para liderar essa transição. E Rui tem tudo para sê-lo.

O atual morador do Palácio de Ondina pode, então, ser alçado a um novo posto, como símbolo de renovação do PT nos próximos anos. E aí, quem sabe, permitir que a Bahia tenha um candidato à Presidência da República em 2022. Seria um sonho dele, conforme confidenciam amigos. Nunca se sabe. *Por Fernando Duarte/Bahia Notícias