Liberar armas é fácil

– A morte de 10 jovens na cidade de Suzano, na grande São Paulo, reacendeu o debate sobre a facilitação ao porte de arma em todo o país. Facilitar o acesso da população às armas não só é um grande erro como esconde o verdadeiro problema da segurança no Brasil: a falta de investimento em segurança pelas três esferas de governo: federal, estadual e municipal.

Sim, estamos à beira do colapso na questão de segurança. Segundo pesquisa DataFolha realizada recentemente, esta é a 3ª maior preocupação dos brasileiros atualmente, só perdendo como problema principal para saúde e educação. E este foi um dos motivos – não o único – a eleger Bolsonaro presidente. Só que a figura-mor da Nação apresenta o remédio errado para a doença crônica. Aumentar o número de armas em circulação não só vai ajudar a armar ainda mais os bandidos como colocará a vida das famílias em grande risco. E não sou eu quem diz isso, é a própria Polícia Militar. Representantes da PM já cansaram de dar entrevistas à imprensa afirmando que o cidadão, ao ser abordado por alguém armado, não deve reagir. O bandido, quando se sente acuado, é o primeiro a atirar. Portanto, a probabilidade de a pessoa ser morta ao reagir a um assalto é muito maior. E se tiver uma arma na mão então, o risco aumenta exponencialmente.

Por que terceirizar ao cidadão comum a tarefa de cuidar da própria segurança? Não é atribuição do governo zelar pela proteção das pessoas? A resposta é óbvia: é muito mais fácil lavar as mãos e repassar o problema do que resolvê-lo de fato. Melhorar a segurança pública, da forma como ela se encontra hoje, requer muito dinheiro e tempo. Não existe milagre. É necessário melhorar os salários dos policiais, equipar as polícias, e dar reais condições para que eles possam combater a criminalidade. Ok, pela Constituição Federal, a segurança é uma atribuição dos governos estaduais. Mas por que Bolsonaro não pode ajudar? Por que não convoca os governadores para debater a questão ou repassa verbas federais aos estados?

A questão das milícias no Rio de Janeiro expõe outro problema gravíssimo da segurança. Só se vende “segurança” privada quando a pública é falha. E os 117 fuzis, de onde vieram? Porque Bolsonaro não se preocupa em cuidar da enorme fronteira brasileira e diminuir o número de entrada de armas no país? E a Polícia Federal, que é comandada pelo ministro da Justiça Sérgio Moro, o que vem fazendo para melhorar a segurança pública no país? Ninguém sabe…

Durante a campanha presidencial o tema segurança foi exaustivamente debatido. A quase maioria dos candidatos defendia a criação de uma coordenadoria federal para integrar os dados das polícias estaduais, formando um sistema de inteligência nacional das polícias, para que elas pudessem trabalhar de forma integrada. Mas será que o presidente defensor das milícias tem interesse nisso?

Fazer tudo isso, claro, dá trabalho, é difícil. Liberar armas é fácil. Medidas para melhorar a segurança pública são muito mais complexas. O buraco é muito, muito mais fundo. Sugiro que Bolsonaro pare, imediatamente, de criar bravatas e comece a governar. Para o bem da segurança de todos.

Por Florestan Fernandes Júnior, jornalista e escritor