Investigação da PM aponta legítima defesa do Bope e motivação política para surto do soldado na Barra

A investigação da Polícia Militar (PM) sobre a morte do soldado Wesley Soares de Góes, em março deste ano, no Farol da Barra, concluiu que os policiais  do Batalhão de Operações Especiais (Bope) agiram em legítima defesa própria e de terceiros e que a vítima teve um surto psicótico por questões ideológico-partidárias. A apuração descartou estresse na atividade policial como motivo para o surto.

Wesley saiu de Itacaré, no sul do Estado, e veio para o Farol da Barra, onde pintou o rosto de verde amarelo, fez discursos desconexos e efetuou disparos para cima, além de danificar uma viatura e objetos de pessoas que abandonaram a região.

Segundo o Inquérito Policial Militar (IPM), o soldado foi baleado oito vezes depois que atirou em direção aos homens do Bope, chamados para tentar negociar a rendição. As negociações duraram cerca de 3h30. O resultado das investigações foram apresentados na tarde desta quinta-feira, por meio de uma coletiva virtual.

De acordo com o tenente coronel Agnaldo Ceita, encarregado pelo IPM e corregedor adjunto da PMBA, o soldado Wesley foi atingido por oito disparos todos nas extremidades do corpo, com exceção de um tiro de fuzil de calibre 762 na cintura. ”Esse tiro levou ao seu óbito pelo sangramento interno provocado”, afirmou o oficial.

Questionado sobre a quantidade de tiros contra o soldado Wesley, Ceita informou que não houve exagero, devido a quantidade de policiais armados na ação. ”De maneira técnica, estavam presentes no teatro de operações duas equipes do Bope. Cada um com pelo menos dois policiais com armamento letal e dois atiradores de elite posicionados no Edifício Oceania na Cabana da Barra. Se cada policial atirasse uma veze, o soldado seria atingido por seis tiros. Como ele (Wesley) permaneceu atirando, mesmo depois de ferido, e como colocava em risco as pessoas devido o alcance da munição de seu fuzil 556, os policiais estavam autorizados a continuar atirando até que fosse cessado o risco. Desta forma, não haveria excesso de disparo”, afirmou.

Em relação ao posicionamento da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares e seus Familiares (Aspra) de que o soldado Wesley estava atirando em posição diagonal para cima, sem oferecer risco aos policiais, o tenente coronel Ceita disse que o laudo pericial produzido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) concluiu que o soldado atirou em direção aos policiais do Bope.

”Eu fiz o questionamento em relação ao ângulo dos tiros, a distância e as respostas são conclusivas que afirmam em laudo pericial que o disparo foi feito em direção à equipe  que se encontrava na Rua Marques de Leão”, diz o oficial. ”É a conclusão do laudo pericial, que é o documento oficial que esclarece os fatos e as versões. Os laudos da balística e da reprodução simulada corroboram com a versão dos policiais”, completa.

Sobre a possível razão para o surto psicótico do soldado Wesley, o responsável pelo inquérito afirmou que havia dificuldade de obter algum laudo médico atestando alguma doença psiquiátrica ou problema psicológico, porque o policial não fazia esse tipo de acompanhamento. No entanto, a partir de manuscritos entregues pela família do soldado e avaliação de psicólogos que tentaram intervir na ação no dia, o IPM chegou à conclusão de que o surto foi provocado por questões ideológico-partidárias.

”É certo que ele possuía algumas discussões na esfera política, mas não participava de grupos políticos. O que levou a essa conclusão (questões ideológicas) foram os manuscritos apresentados pelos próprios familiares. Os psicólogos não fazem parte da investigação. Não havia um acompanhamento anterior do soldado Wesley que pudesse traçar um diagnóstico psiquiátrico ou psicológico, que pudesse permitir um relatório médico conclusivo na prática sobre as suas ações”, explica Agnaldo Ceita.

As investigações foram acompanhadas por uma equipe do Ministério Público Estadual, o qual não apontou nenhuma irregularidade durante o processo. Agora, o inquérito será avaliado por promotores da área de auditoria militar para avaliar se arquivam o caso ou se vai requisitar novas diligências. *Metro1