Por Sebastião Nery

Sebastião Nery

 Era um sábio do sertão. Mais poderoso coronel do Nordeste, viveu, mandou, desmandou e morreu com 89 anos (de 1885 a 1974) em Limoeiro, no sertão de Pernambuco. Tinha saborosas sabedorias:

         1 – “O eleitor do Recife é muito a favor do contra”.

         2 – “Deus não deu asa ao tatu porque o céu ia ficar cheio de buracos e os santos caíam todos”.

         3  – “Não existe cabeça dura para pancada e dinheiro: depende da quantidade”.

         4 – “Todo bêbado é rico, bonito e valente”.

         5 – “Velho é como rede: se acaba pelo fundo”.

          6 – “Governo não bota roçado, mas está sempre colhendo”.

                                      VITALINO

         Também de Pernambuco, do Alto do Moura e da Feira de Caruaru, veio outro sábio, analfabeto mas sábio, o Mestre Vitalino, gênio da raça, magrinho, sequinho, conversador, simpático, que morreu tão cedo, aos  53 anos (nasceu em 10 de julho de 1909 e morreu em 20 de janeiro de 1963).

          Ligava um ao outro a sabedoria nascida da terra, do chão. Vitalino:

         1. – “Era mais importante que eu aprendesse a usar minhas mãos que minha cabeça. Na minha terra as mãos produzem comida e a cabeça só produz confusão.”

2. – “Eu aprendi pela cadência, tirando do juízo, fazia o que via e o que nunca havia visto. Fazia pela cadência. Diziam que zebra era curta e com o pescoço alto; fazia um bicho rombudo, das pernas grossas. O povo dizia: – É um elefante! – Pois bem, ficava elefante.”

                                        CARUARU

         Conheci o Vitalino em Caruaru no começo da década de 60, na sua barraca de feira, conversando e bebendo, eu deputado pela Bahia levado lá pela encantadora família Queiroz (prefeito José Queiroz, João Lira Neto, Fernando Lira). E por meu irmão Bosco Tenório. Ganhei uma Banda de Pífanos que toca, canta e dança até hoje e a Beatriz esconde a sete chaves.

         Sempre achei um desperdício não termos uma biografia completa do Vitalino, o gênio do barro, com fotos dele e de seu enorme acervo espalhado por ai. Agora o pernambucano Paulino Cabral de Mello está terminando um trabalho exaustivo, de varias décadas. Ele com a palavra:

1.- “Ainda foi possível entrevistar, pessoalmente, no Alto do Moura, em Caruaru, e depois no Recife, em Catende, Juazeiro do Norte, Brasília, Maceió, Fortaleza e no Rio de Janeiro, dezenas de artesãos, companheiros, jornalistas, parentes e amigos de Vitalino. São mais de 30 horas de gravações obtidas em 32 depoimentos transcritos e 290 páginas”.

2. – ”A morte de Vitalino, por exemplo, é um drama pungente e ao mesmo tempo desconcertante, ao mostrar tantos “Brasis” em suas circunstâncias, muito mais do que se poderia esperar de um homem pobre que morre no Nordeste. Deste modo, ouvindo seus contemporâneos, quase todos com mais de 50 anos, a maioria beirando os 70, pudemos melhor sentir esse dorido mundo Vitalino. Assim nasceu este livro”

                                      O  LIVRO

3 “A abordagem de sua obra já teve alguns poucos nomes que nos ofereceram textos resumidos e imagens de valor, como René Ribeiro e Lélia Coelho Frota. Outros com sua própria arte exaltaram-no: Vital Santos no teatro (“O Auto das Sete Luas de Barro”)  ou o francês Pierre Verger com seu ensaio fotográfico de 1947.

          4. – “Seis anos depois de pronto, em 1995, o Ministério da Cultura, através da benemérita “Fundação Assis Chateaubriand”, dos Diarios Associados, o editou como “Vitalino em Barro: o Homem”, 364 páginas, 148 fotos, 33 em cores, divulgação limitada, distribuído apenas em alguns museus e escolas de arte. Não chegou às livrarias nem foi comercializado. A família de Vitalino teve dificuldades para recebê-los. Os exemplares dos filhos não chegaram. Na prática aquele livro não existiu”.

         O novo livro é inteiramente outro, a começar pelo titulo : – “Mestre Vitalino, a Vida Feita em Barro”. É uma bela e primorosa  edição da “Leo Christiano Editorial”, com toda a sua experiência de livros artísticos e históricos, como o clássico “Portinari”, de Antonio Bento.

           Apresentado pelo governador Eduardo Campos, será lançado no Centro de Festas Populares de Caruru, depois no Centro de Tradições Nordestinas do Rio e no Centro de Tradições Nordestinas de São Paulo.

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