Por Sebastião Nery

Sebastião-Nery

Antonio Carlos, governador da Bahia, entrou agitado no Hotel Lancaster, em Copacabana, Rio, de manhã, chegando de Brasília. Ligou para Salvador, chamou o professor Jorge Novis, da Escola de Medicina, e convidou-o para ser Ministro da Saúde. O famoso médico baiano não aceitou. Antonio Carlos insistiu, desistiu, desligou:

         – Vai acabar sendo o Guga.

         Ligou para o professor Clementino Fraga Filho, convidou, não aceitou, insistiu, discutiu, nada. Antonio Carlos desligou irritado:

         – Ninguém quer nada. Vai acabar sendo o Guga.

         Ligou para outro médico baiano. A conversa já começou a ser ríspida. O homem não queria, Antonio Carlos falava alto, quase aos gritos, acabou pedindo para falar com a filha dele. Ela devia convencer o pai a aceitar, era um serviço que ele devia prestar à Bahia. Não houve apelo, o terceiro não quis. Antonio Carlos desligou aos berros:

ACM

         – É sempre assim.Dizem que nós políticos não temos espírito público,  só indicamos pessoas ligadas pessoalmente a nós, por interesses pessoais ou de grupo. Convenci o General Figueiredo, depois de uma luta dura, a dar o Ministério da Saúde à Bahia. Convido os três mais importantes médicos do Estado, nenhum quer fazer força, dar contribuição nenhuma.

         Senta-se à beira da cama, suspira:

         – Vai acabar sendo o Guga.

         No dia seguinte, em  Brasília, Antonio Carlos apresentou  o médico baiano Mário Augusto Castro Lima, futuro Ministro da Saúde. Na Escola de Medicina, onde foram colegas, Mário Augusto tinha o apelido de Guga.

         Acabou sendo o Guga.

MINISTERIO

         A presidente Dilma anunciou no fim do ano que em fevereiro faria a reforma do Ministério. Começou.E está sendo uma frustração, um desastre. Esperava-se que, no quarto ano da administração ela ia aproveitar a oportunidade para compor um governo à altura das necessidades do pais.

E transformou tudo em um vagabundo mercadinho chinês, um compra-compra, um troca-troca para arranjar mais tempo de campanha na TV e apoio dos partidecos nanicos. Até o PSD do melífluo Kassab está batendo na mesa. E o PMDB, sempre invertebrado, de repente toma pudor, desacata a Presidente e joga pela janela seus ministeriozinhos de mentira

         Com quem ela quer governar? Vai acabar sendo o Guga.

RISERIO

        Ainda bem que sempre há quem esteja pensando o pais com talento e seriedade. Em longa e densa pagina e meia no “Estado de S. Paulo”, o historiador e antropólogo baiano Antonio Risério denuncia um crime devastador que se comete hoje: – “Em Busca do Urbanismo Perdido”

         1 – “Nossos governantes, numa verdadeira marcha da insensatez, abrem mão da reforma urbana. Precisaríamos de prefeitos que não se comportassem como agentes da especulação imobiliária, com uma vontade coletiva de sair do buraco.As cidades brasileiras vivemdias especificamente difíceis, de uma ponta a outra do país. Estão maltratadas, sujas, agressivas.”

         2 – “As promessas não se transformam em realidade. O Minha Casa, Minha Vida constrói hoje as favelas do futuro. Todos precisamos de um lugar onde orar.Mas por que até hoje isso não acontece? Milhões de brasileiros, depois de 10 anos de governos social democratas, continuam amontoados em alojamentos deprimentes. Em nenhum outro lugar a desigualdade social é tão clara e brutal quanto na moradia.”

         3 – “O Brasil tende a ser o paraíso de autoengano. Depois de Antonio Palocci, a política econômica do governo meteu os pés pelas mãos.Estamos combinando crescimento medíocre e inflação controlada artificialmente. A prioridade deveria ser contra a favelização do País, por casas decentes e serviços públicos de qualidade, contra a violência e o narcotráfico, contra a podridão do sistema político e pelo direito de todos à cidade.”

         4- “Lula e Dilma, com sua ênfase consumista, privilegiam o comércio de automóveis, dando uma contribuição imensa para encalacrar de vez nossas cidades. Além de não atender a maioria da população, o carro individual sai caro demais para o governo. Carro novo na rua obriga o governo a usar recursos para fazer ruas, pontes, viadutos. Gasto absurdo”.

         Acabaram chamando o Guga.

Por Sebastião Nery

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