O Supremo Cochicho

Sebastião Nery

No “11 de Novembro” de 1955, internado Café Filho, presidente da República, com problemas cardíacos, o golpista Carlos Luz, presidente da Câmara no exercício da Presidência, tentou demitir o general Lott do Ministério da Guerra para impedir a posse de Juscelino – que havia ganho as eleições de 3 de outubro – mas não conseguiu. A Câmara reuniu-se, derrubou-o e o substituiu por Nereu Ramos, presidente do Senado. Antonio Balbino, governador da Bahia, amigo de Nereu, veio para o Rio visitá-lo. Nereu acabava de receber carta de Café Filho comunicando-lhe que ia reassumir a Presidência. Mas o General Denis, comandante do I Exército, já havia mandado cercar a casa de Café para ele não sair de lá. NEREU Quando Balbino chegou ao Catete, o general Lima Bryner, chefe da Casa Militar de Nereu, pediu a Balbino que convencesse Nereu a não devolver o governo a Café, que queria dar o golpe. Nereu foi claro: – Só vou agir dentro da lei. O Café, através de Prado Kelly e Adauto Cardoso, entrou com mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal. Se o STF conceder o mandado, entrego o governo e volto para o Senado. Lott soube da conversa, chamou Balbino: – Governador, vá conversar com o presidente do Supremo. BALBINO Balbino foi. O velhinho estava em casa, noite alta, já de pijama: – Ministro, o país está vivendo um momento difícil. Compreenda. A casa do Café está cercada. O Catete está cercado. Nereu não vai poder passar o governo ao Café porque Café não quer dar posse ao Juscelino. – Mas, governador, o mandado de segurança está em pauta para amanhã. Se o Tribunal conceder, o Café vai reassumir. – Ministro, entenda. Enquanto se fecha o Legislativo, ainda se entende. Mas, e se o Judiciário for fechado? Para onde vamos? O ministro levantou-se, passou para o gabinete interno da casa, pegou o telefone vermelho, daqueles de gancho, e começou a ligar para os outros ministros, falando baixinho, cochichando, cochichando. O mandado de segurança não entrou em pauta. Nereu continuou presidente e deu posse a Juscelino no dia em que a Constituição mandava. TEORI Não sei com quem o ministro Teori Zavascki, do Supremo, cochichou. Mas deve ter cochichado com um cochicho muito poderoso, para chegar a uma decisão tão estapafúrdia, a uma teoria tão zavascada. Tudo bem.Ninguém entende mesmo cabeça de alguns juizes. Mas tentem entender o tortuoso Zavascki. Eram 12 presos. Ele queria soltar um, o cochichado. Em vez de manter 11 presos e soltar o cochichado, ele soltou à noite todos os 12 e prendeu novamente 11 ao amanhecer. O pais levou um susto, as manchetes das TVs e jornais explodiram. E o cochichado? O cochichado, ora,! continua cochichando. PAC EMPACOU O economista Gil Castello Branco, fundador da Associação Contas Abertas, analisa o desempenho do PAC, criado para lançar a candidatura da Dilma, “a Mãe do PAC”, em 2010. Os resultados são devastadores : 1.- Na Saúde, das 24.006 obras prometidas só 2.547 (11%) foram colocadas à disposição da sociedade. Unidades Básicas de Saúde (UBS): das 15.652 previstas, irrisórias 1.404 (9%) foram concluídas. Unidades de Pronto Atendimento (UPAs): 503 previstas, somente 14 prontas. 2. – Saneamento e recursos hídricos: das 7.911 iniciativas, apenas 1.129 (14%) finalizadas. Dilma prometeu 6 mil creches, que poderiam chegar a 9 mil. Das 5.257 creches e pré-escolas constantes do PAC 2, apenas 223 em funcionamento até o fim do ano passado. 3. – Esporte: das 9.158 quadras esportivas, apenas 481 (5%) inauguradas. Nenhum dos 285 centros de iniciação ao esporte ficou pronto. 4. – Transportes: dos 106 empreendimentos em aeroportos, 70% ainda em fases burocráticas. De cada 3 obras de rodovias, apenas uma concluída. Das 48 intervenções em ferrovias, só 12 no fim. Mais da metade do PAC 2 sequer saiu do papel. De cada 10 iniciativas, menos de 4 estão em obras ou em execução. Apenas 12% concluídas. O PAC empacou.

Por Sebastião Nery

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