Morte de Gabriel García

Gabriel-García-Márquez

Gabriel García Márquez dizia que o difícil não era inventar histórias. Difícil era fazer um americano, um europeu acreditar na realidade de qualquer país da América Latina. Gabo, como era conhecido, fez fama e fortuna misturando superstição, fantasia e realidade. Foi um dos maiores nomes de um gênero de literatura feito, ao mesmo tempo, para levantar a auto-estima dos latinos e denunciar as ditaduras da época.

Não precisou ir longe para abastecer a imaginação. O menino de Aracataca, uma cidade colombiana, cresceu cercado pelas historias do avô militar e pelos causos da avó tranquilina. Por pressão dos pais, encarou o curso de direito. Nunca terminou. O emprego de repórter o seduziu. Dava espaço para levar a vida de boêmia e se dedicar à literatura.

No fim dos anos 40, a Colômbia de García Márquez viveu mais uma onda de violência. A morte do candidato a presidência da república deflagrou um conflito que duraria até os anos 60.

Nessas duas décadas, Gabriel García Márquez juntou forças para escrever sua grande obra: “Cem Anos de Solidão”. Resultado de um ano e meio de reclusão, durante o qual a esposa do escritor teve de empenhar os moveis para conseguir dinheiro, inclusive para pagar os seis maços de cigarro que ele queimava por dia. Quando o livro ficou pronto, o casal andava em tal penúria que só tinha dinheiro para despachar metade dos originais para os editores.

Traduzido mais de 30 idiomas, o livro deu fama internacional a García Márquez. Vendeu milhões de exemplares mundo afora, mas quase não saiu da gaveta. Rejeitado por várias editoras, “Cem Anos de Solidão” só foi publicado em 1967 graças à ousadia de uma pequena editora argentina.

Cem Anos de Solidão conta a historia de uma família e de guerras. Lá estão os elementos do universo mágico de García Márquez: as tragédias, a crendices, a luta e a solidão.

O mestre do chamado realismo fantástico escreveu muito e, aos poucos, foi se voltando para a realidade.  Entre seus títulos mais conhecidos, estão “Crônica de uma Morte Anunciada”, “O Amor nos Tempos do Cólera”, “Do Amor e Outros Demonios”, “Ninguém Escreve ao Coronel”, “Relato de um Náufrago”.

Gabriel García Márquez passou a viver no México. Até que numa madrugada de outubro de 82 recebeu um telefonema: havia ganho o Nobel de Literatura. Manifestou seu orgulho latino ao receber o prêmio vestido com um traje de linho branco, típico do caribe colombiano.

García Márquez dizia que leitura de “A Metamorfose”, de Franz Kafka mudou sua vida. E que tinha entre seus heróis os escritores Ernest Hemingway e William Faulkner. E um polêmico líder latino americano, Fidel Castro.

Se a literatura de Gabo sempre atraiu aplausos, o mesmo não pode ser dito das suas escolhas políticas. Dois de seus biógrafos disseram que o escritor era fascinado pelo poder. Fosse o de democratas, como François Mitterand e Bill Clinton. Fosse o de ditadores, como o próprio Fidel e o panamenho Omar Torrijos.

A amizade com o Fidel, diziam seus biógrafos, era de conveniência. Fidel usava o prestígio de Gabo em troca de bajulação e presentes. Quando questionado sobre o apoio a um ditador e um regime que desrespeitavam diretos humanos, o colombiano respondeu: “a revolução não é perfeita”.

Gabo tinha um gosto polêmico também para a música: amava de paixão os bolerões do brasileiro Nelson Ned.

A saúde era preocupante há algum tempo. Em 99, recebeu o diagnóstico de câncer linfático. Faz dois anos que o irmão de García Márquez revelou que o Nobel de Literatura sofria de algum tipo de demência.

A doença impediu o escritor de concluir a sua autobiografia, iniciada em 2002 com o livro ” Viver para Contar”. Com problemas de memória, Gabo já não conseguiu realizar a literatura como a concebia: “a nostalgia é a matéria prima da minha literatura. Minha vocação não é a de escritor, mas a do contador de casos. Eu apenas repito o que me contaram os meus avós.”

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