Ausência de candidatos

Rodrigo Daniel é jornalista, e escreve para Tribuna. Foto: BN

Desde a década de 1960, quando ocorreu o primeiro debate televisionado no mundo entre John Kennedy e Richard Nixon pela Presidência dos Estados Unidos, os atores políticos têm receio de participar de embates eleitorais. Sabem os candidatos que uma fala mal colocada, um simples gesto errado, uma aparência abatida ou qualquer desatenção pode ser a gota d’água na eleição.

Autor de um importante livro sobre aquela eleição americana, o jornalista Theodore H. White relata como o debate, que foi assistido por mais de 70 milhões de pessoas, mudou a percepção dos eleitores. A esperada superioridade de Nixon, que era então vice-presidente da República, se desmanchou no ar. Ele apareceu no confronto assustado, carrancudo e abatido. Enquanto o seu adversário, John Kennedy estava calmo e confiante.

”Quem ouviu os debates no rádio acredita que houve paridade entre os dois candidatos. No entanto, todas as pesquisas com aqueles que assistiram aos debates na televisão indicaram que Nixon se saiu mal”, escreveu White. De lá para cá, muitos candidatos fogem dos embates eleitorais como o diabo foge da cruz. No Brasil, virou mania os líderes nas pesquisas de opinião não comparecem aos debates.

Em 2018, Jair Bolsonaro não foi a nenhum confronto no segundo turno, com o argumento de que os médicos vetaram a sua participação após o atentado à faca que sofreu. Foi eleito sem que os brasileiros soubessem quais eram as suas propostas para resolver os principais problemas do país. Dias depois de Bolsonaro ter vencido, o então prefeito de Salvador, ACM Neto, disse, com razão, que o Brasil ”deu o maior cheque em branco da sua história” ao presidente eleito.

No mesmo ano, o governador Rui Costa, que disputava a reeleição, prometeu participar de todos os debates eleitorais. Não cumpriu. Líder nas pesquisas, esteve presente apenas em dois, na Bandeirantes e na TV Bahia. Aliás, poucas entrevistas ele concedeu à imprensa naquele pleito. Reeleito, Rui enviou semanas depois, sem nunca ter mencionado na campanha que faria, um duro pacote de austeridade para a Assembleia Legislativa.

Desta vez, é ACM Neto, que lidera as sondagens de opinião, e já avisou que não irá para o primeiro debate eleitoral, marcado para o próximo domingo. Provavelmente, repetirá a estratégia de 2016, quando foi reeleito prefeito de Salvador. Naquele ano, Neto foi apenas ao último confronto promovido pela TV Bahia. Ausente dos debates, o pré-candidato a governador do União Brasil vai reduzir as chances de seus eleitores saberem o que pensa para o futuro da Bahia, e comparar suas propostas com a dos adversários políticos.

ACM Neto tem feito críticas aos baixos índices da Educação e da Segurança Pública do estado, mas, até agora, pouco tem dito como resolverá esses problemas. Tem prometido dar continuidade nas boas ações feitas pelo atual governo, mas pouco se sabe quais os projetos petistas ele considera positivos e não serão interrompidos, se ele for eleito o próximo governador.

Na disputa presidencial, tanto Lula quanto Bolsonaro, que estão à frente nas pesquisas, já indicaram também que não vão participar dos debates. A verdade, caro leitor, é que, ao longo das últimas eleições, os candidatos têm se sentido à vontade para faltar aos embates eleitorais. Embora os debates sejam um momento importante para sabermos quem têm realmente propostas concretas e está preparado para comandar o estado ou o país, os eleitores têm dado pouca importância para a ausência dos postulantes. Pelo contrário, tem premiado os ausentes com cheques em branco, como fez com Bolsonaro há quatro anos.

*por Rodrigo Daniel Silva

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