Apontamentos sobre o ataque americano à Síria

1 – Os componentes do ataque químico possivelmente foram passados pelos EUA com a Turquia e MOSSAD de Israel para criar um fato político “guerra das versões”. Como se sabe a Turquia e Israel são países fronteiriços e tem interesses militares contra Síria e o Irã. Para corroborar a afirmação, poucas horas após o ataque americano, Israel já realizou um ataque com 3 misseis[1], dias atrás (10/02/2018) havia realizado outros ataques. Esses ataques pontuais possivelmente coordenados com os EUA tem o objetivo de testar o sistema da defesa antiaérea da Síria.

2 – O ataque foi provavelmente negociado com a bancada do míssil nos EUA (Hilary) e das Indústrias de Defesa que detém grande influência política.

O argumento é corroborado visto que se o arsenal químico sírio já tinha sido extinto em 2014 segundo a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) da ONU[2], após o ataque químico de 21 de agosto de 2013 ter sido atribuído as forças governamentais Sírias. Portanto, não se justificava o ataque. Se não é justificado o ataque, Trump deve estar acuado politicamente. Sinais desse acuamento já existiam desde que 100 Congressistas Democratas se uniram para pedir uma investigação do presidente Donald Trump por várias acusações de assédio sexual, denunciadas por 16 mulheres[3]. Em janeiro de 2018 também foi reacendido o debate sobre a saúde mental[4] de Trump bem como o debate sobre o Impeachment.[5] Paralelamente corre a investigação sobre laços com a Rússia. Trump cede ao estabilishment do complexo industrial-militar e cederá mais vezes.

3- os alvos foram provavelmente negociados com a Rússia e Síria (novamente), visto que nenhum ativo militar russo ou Sírio foi atingido. Uma vez que a Síria não havia arsenal químico, no máximo uma infraestrutura de prédios vazios e desinteressantes, reforça a ideia de que os alvos foram negociados. Em 06/04/2017 os EUA realizaram outro ataque com 59 mísseis Tomahawks e também já haviam suspeitas de combinação de alvos tem em vista a inexistência de prejuízos à Siria e à Rússia. Esses ataques podem voltar a acontecer de quando em quando, conforme a existência de fatos catalisadores (ataques químicos organizados pelos serviços de inteligência americanos, britânicos, sauditas e israelenses) bem com pressões da bancada do Míssil nos EUA. Esses atores funcionam de forma articulada para que todos os interesses sejam satisfeitos.

4- Os extremistas sunitas (Estado Islâmico e “Rebeldes Sírios” apoiados de forma irresponsável pelos EUA para tomar o governo laico de Assad estão a sua própria sorte após serem usados e manipulados numa guerra por procuração (proxy war). Falta pouco território Sírio a ser recuperado. Os terroristas estão sendo esmagados pelo Exército Sírio com ajuda da Rússia e abandonando diversos territórios[6].

5 – O objetivo de criação do gasoduto Qatar – Turquia (Qatar Turkey Pipeline) — que é a jogada de mestre americana—, terá que esperar por tempo indeterminado. Esse audacioso plano objetiva em uma tacada só que a Europa não compre mais gás e petróleo do Irã e da Rússia, quebrando-os. Além do mais garante o praticamente o monopólio no Oriente Médio e que o petróleo seja vendido em dólar, conferindo valor à moeda. Adiando esse projeto significa que Irã e Rússia não irão à bancarrota. Isso significa também que o dólar continua ameaçado com a desvalorização, pois os EUA não conseguem vincular a venda da energia iraniana ao petróleo e a vinculação do petróleo ao dólar é que mantém o dólar com o seu valor.

6- Apenas uma tentativa de invasão terrestre por parte dos sócios em armas e petróleo (EUA, França, Inglaterra, Arábia Saudita) é perigosa, pois fará a Rússia reagir com energia a qualquer investida. A Rússia não tem a opção de deixar ser quebrada economicamente com o gasoduto Qatar – Turquia e muito menos o Irã. Para a Rússia, China, Venezuela e Brasil é interessante que a queda do dólar arraste o papel dos EUA de potência hegemônica. Quanto menos hegemônico os EUA menos perigosos à paz mundial. O grande problema são os espasmos de uma potência em declínio que para cada dólar que imprime (sem lastro) investe 50 centavos nas forças armadas para saquear o petróleo, conferindo lastro artificial à moeda e mantendo o dólar valorizado em um ciclo retroalimentado.

7- A não participação da Alemanha neste ataque,— que também é país-membro da OTAN —, revela uma certa fragilidade dos EUA com a Alemanha, bem como a importância do trabalho diplomático da Rússia com a Alemanha. O papel de Alemanha teleguiada de Washington não lhe rende benefícios. Inclusive ambos os países tentam arrefecer as sanções econômicas americanas após a crise da Ucrânia e Crimeia e que lhes prejudicam[7].

*Por João Renato Paulon / Advogado