A Teoria dos Jogos

A palavra jogo entra em nossas vidas desde muito cedo. Seja na forma de uma competição como num simples baba, de uma diversão como o da bola de gude e mais recentemente os jogos eletrônicos que ajudam a manter as crianças em casa nos tempos de pandemia. Durante a juventude começávamos a frequentar os bingos dançantes, os concursos das quadrilhas juninas, ou mesmo os campeonatos esportivos, com predominância das partidas de futebol. Seguimos comprando um bilhete de rifa, fazendo uma fezinha no jogo do bicho, apostando na loteria esportiva, arriscando na megasena ou comprando um bilhete da federal. Aprendemos a jogar dama, gamão, xadrez e nos arriscamos nos jogos de cartas. Quando deixamos a escola, mais maduros, e abraçamos uma profissão, surgem outras situações que chamamos de jogo da política, a competição da livre concorrência, as negociações salariais e os jogos de defesa de posições. A vida segue como uma sucessão de jogos.

A Teoria dos Jogos figura como disciplina nos cursos de administração e economia e desperta interesse de cientistas políticos, militares, sociólogos e por todos aqueles que veem na interação entre indivíduos e organizações a defesa de seus negócios, o desenvolvimento de estratégias de ação e na aplicação da matemática na solução de conflitos. O entendimento teórico do processo de decisão de pessoas que interagem entre si a partir da percepção dialética do ambiente em que estão mergulhados, contribui para desenvolver a capacidade de raciocinar estrategicamente, explorando as vantagens e desvantagens, pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças.

Temos assistido à tomada de algumas decisões que nos deixam perplexos. O que levou a Ford, por exemplo, a paralisar a montagem de automóveis em Camaçari? A modernidade de sua fábrica, o abandono do mercado, os custos elevados inerentes a uma paralização desse porte, a quebra de compromisso com o estado, não pesaram na decisão? O fortalecimento de posições em outras regiões do planeta, a necessidade de atualização do produto, o posicionamento estratégico em outras direções, têm peso maior e decisivos? O que está levando a Petrobras a abandonar as atividades de exploração, produção, refino, transporte relacionados à atividade onshore das regiões, Norte, Nordeste e Sul para apostar todas as fichas no Sudeste e no pré-sal? A entrega de áreas importantes para concorrentes gigantescos não irá proporcionar sérios embaraços futuros? O que fez as fábricas de pneus Continental e Bridgestone a decidirem pela instalação de suas fábricas em Camaçari tendo de importar as matérias-primas e de exportar quase toda a produção? A paridade das moedas pesou na decisão?

No mundo empresarial e com uso de sofisticados softwares, pode-se simular situações em que é possível encontrar as melhores respostas para os casos de jogos simultâneos ou sequenciais, de estratégias mistas, de situações de competitividade e de possíveis casos de tendência ao equilíbrio. Não faltam teorias embasadas em ensinamentos de John Forbes Nash (1928-2015), Antoine Augustin Cournot (1801-1877), Vilfredo Pareto (1848-1923), Joseph Louis François Bertrand (1822-1900) e Francis Ysidro Edgeworth (1845-1926) para respaldarem acertadas decisões. Enfim, tudo na vida se transforma em um jogo e quem entra no jogo o faz com a intenção de ganhar.

*Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]