A relação entre Rui e Wagner

Rodrigo Daniel Silva é repórter

Não é preciso ser clarividente para ver que a relação entre o governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner não anda nada boa. Hoje, completa-se um mês da fatídica reunião dos petistas da Bahia, com o senador Otto Alencar e o ex-presidente Lula em São Paulo. Neste encontro, Rui teria sugerido que Otto fosse candidato a governador, e ele a senador, o que resultaria na saída de Wagner da cabeça da chapa.

A nova arrumação da majoritária provocou um terremoto no grupo político. Rui passou a ser queimado na fogueira da opinião pública. Petistas acusaram o governador de ser egoísta e rifar Wagner da chapa. Eles plantaram a informação em todos os veículos que puderam. O curioso? É que um mês depois o senador petista nunca fez uma defesa contundente do aliado. De lá para cá, a base governista só sangra em praça pública.

Os principais líderes do grupo político — Rui e Wagner — mostram publicamente estarem em dissintonia, e em disputa para ver quem verdadeiramente manda na ala governista. Os dois passaram a última semana ”gritando” para saber qual é o galo que sozinho tece uma manhã. “Eu vou começar a colocar um ponto final nessa história”, disse Wagner à rádio Metrópole, avisando ser ele o mandachuva. “Eu comuniquei a Rui que eu não manterei minha candidatura”, afirmou, ao querer mostrar que a decisão de ficar fora da chapa foi dele, e não do governador. ”Essa era a primeira estratégia que eu tinha montado”, acrescentou, ao ressaltar que partiu dele o desenho da chapa com Otto como candidato a governador e Rui senador.

Em seguida, Wagner disse que esta arrumação da majoritária foi desmontada porque Otto não quis concorrer ao governo. Ao usar a tática do fato consumado, o senador petista declarou, então, que Rui ficaria até o final do mandato e o PT lançaria um nome novo como candidato a governador. Rui abertamente mostrou que não gostou nada da postura do padrinho político, e disse horas depois das declarações de Wagner: ”Eu divulgarei a chapa completa”. No dia seguinte, na terça-feira, reforçou quem manda: ”eu estou trabalhando intensamente para que até o dia 13 março, a gente possa divulgar (a chapa)”.

Na quarta-feira, ao pedir desculpas ao vice-governador João Leão por não o ter avisado que Rui permaneceria no governo, Wagner novamente quis demonstrar quem é a maior autoridade do grupo político. Ou melhor, o ”fundador”. “Eu fui anunciar (a nova chapa) como fundador do grupo, (mostrar) o caminho. Agora, eu continuo disposto a continuar com o PP dentro da aliança”, afirmou ele.

Wagner tem muitos motivos para estar descontente com o seu afilhado político. Como bem me disse um observador político, Rui virou o principal ”adversário” do senador. O governador é hoje um contraponto do padrinho político: correria contra ”wagareza”; o austero contra o perdulário. Além disso, as principais marcas do governo Wagner, como os programas ‘Água para Todos”, ”Topa” e ”Pacto pela Vida”, foram praticamente apagadas no governo Rui. ”Nem parece que Wagner foi governador um dia”, disse-me outro astuto observante da cena política baiana. Talvez, isso explique por que o senador petista tinha 41% de rejeição à sua pré-candidatura. Por incrível que pareça, maior do que a do candidato de Bolsonaro, João Roma.

Com a decisão de concluir o mandato, Rui sabe que vai depender nos próximos tempos de Wagner para permanecer na vida pública. Ele estará sem mandato e, se quiser virar ministro, terá que ter o aval do padrinho político, que ainda é o principal interlocutor do ex-presidente Lula na Bahia. No final de semana, o governador fez questão de negar o estremecimento da relação com o senador.  ”Quarenta anos de amizade e continua forte e firme. Tenho maior carinho”, disse ele. Será bom mesmo manter a relação ”forte e firme” com Wagner, se quiser ver no horizonte um lugar bonito para viver em paz.

*Rodrigo Daniel Silva é repórter da Tribuna


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